Com mais de 70% das ações concluídas, projeto apoiado pelo REM MT muda realidade de agricultores no Portal da Amazônia

Trajetória de casal, que reside em Carlinda, região norte do Estado, é transformada após conhecer e ser atendido pelo projeto REM MT

Fonte: CenárioMT com Marcio Camilo REM MT/SEMA-MT

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Antonia e seu Zé da Lasca não tinham terra própria. Trabalhavam ‘pra fora’. Seu Zé chegava a ficar 20 dias longe de casa, cortando madeira para construir cercas e casas nas fazendas da região de Carlinda, no Portal da Amazônia, ao norte de Mato Grosso. Daí, inclusive, advém o seu apelido: Zé da Lasca, que são as lascas das madeiras que cortava durante o ofício. Já Antonia era professora na rede de ensino infantil da cidade.

A vida dos dois não era fácil e a grana muito curta. Sempre sentiram a necessidade da terra própria: de viver e tirar o sustento dela. Sonho que começou a virar realidade quando conseguiram entrar num assentamento e serem inseridos nos projetos da organização socioambiental Instituto Ouro Verde (IOV). A partir disso, tanto Antonia como Zé da Lasca deixaram de trabalhar ‘pra fora’ e começaram a trabalhar pra dentro, na terra deles, a partir dos subsídios e linhas de créditos viabilizadas pelo IOV.

A mudança foi drástica. Nunca mais faltou alimento e a geração de renda passou a ser constante. “Nossa! Não consigo nem achar palavras direito pra dizer o quanto a nossa vida mudou. Foi algo extraordinário”, sintetiza a simpática Antonia Soares de Brito Oliveira, agricultora familiar de 43 anos, casada com José Severino de Oliveira, o ‘Zé da Lasca’, e mãe de uma filha de 16 anos.

Projeto referência

Antonia e Zé da Lasca fazem parte de um projeto bem mais amplo de médio a longo prazo, desenvolvido pelo IOV há 18 anos com agricultores familiares nos municípios que englobam o Portal da Amazônia. Atualmente, a organização viabilizou 33 linhas de créditos, no valor total de R$ 264 mil, para desenvolver a produção de hortas, verduras e pomares de mais de 200 famílias. Além disso, cadastrou as famílias no Sistema de Comercialização Solidária (Siscos), onde os produtores conseguem alcançar os consumidores; apoia o extrativismo de 60 coletores de sementes e fomenta a produção de uma agroindústria de beneficiamento de Pequi, que é administrada por 8 mulheres e que conta com 25 funcionários e funcionárias.

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Mais crédito

Todas essas ações fazem o projeto do IOV ser um dos mais eficientes já apoiados pelo Programa REM Mato Grosso (do inglês, REDD para Pioneiros). Até o momento, a iniciativa já alcançou o patamar de 70% de suas ações concluídas. Na prática, isso significa mais floresta em pé e geração de renda para quem realmente precisa.

“O REM MT tem sido fundamental na continuidade de nossas ações no Portal da Amazônia. Antes tínhamos uma linha de crédito no Banco Raiz no valor de R$ 340 mil. Agora, com o REM MT nos apoiando, esse valor saltou para R$ 635 mil. O que isso significa? É mais dinheiro aos agricultores, para que eles ampliem suas áreas de produção na perspectiva agroecológica: conciliando a geração de renda com a preservação e recuperação de áreas degradadas”, destaca Andrezza Alves Spexoto, coordenadora do projeto do IOV inserido no REM MT.

Novas áreas

Inclusive, o casal de agricultores citados no início da matéria atualmente conseguiu uma linha de crédito para fazer novos investimentos na propriedade, a partir dos recursos do REM MT. Com o dinheiro no bolso, Antônia e seu Zé da Lasca expandiram o pomar e os quintais florestais para uma nova área de cinco mil metros quadrados (meio hectare) onde haverá possibilidade, por exemplo, de se plantar mais de 400 pés de diferentes espécies frutíferas e madeireiras.

“Pretendemos recuperar mais áreas degradadas e ampliar nossos pomares e quintais florestais. Queremos plantar mais laranja, pocan, limão, cupuaçu…além de fazer piquetes no pasto com plantio de árvores para que as nossas vaquinhas leiteiras descansem na sombra. É muito mais qualidade de vida para o animal”, destaca Antônia.

Coletividade

Para tocar o projeto, Andrezza, a coordenadora do IOV, conta com o suporte do professor da Universidade Estadual (Unemat) Alexandre de Azevedo Olival, que faz parte do Núcleo de Pesquisa e Extensão da Agricultura Familiar e Agroecológica (NAF) da Unemat do campus Alta Floresta. Sobre o projeto ter atingido 70% de conclusão dentro de apenas 1 ano e meio, os dois comemoram o resultado, mas ponderam que é preciso ter “os pés no chão” e que isso só aumenta a responsabilidade do IOV junto aos agricultores familiares.

Destacam também que tal patamar de eficiência não se consegue sozinho, pois envolve muito esforço, coletividade e, principalmente, o envolvimento das famílias.

“O projeto não caiu de paraquedas. Existe um contexto aí. Não começamos do nada e nem sozinhos. Existe uma rede de colaboradores, outras instituições parceiras, como a Unemat e a Rede de Sementes, que faz esse projeto ser tão eficiente”, conta Andrezza.

Fundo camponês

Ao todo, o Programa REM MT investe R$ 1,5 milhão na iniciativa do IOV, denominada de “Fundo da Agricultura Camponesa: articulando crédito e comercialização para o fortalecimento da agricultura familiar no Portal da Amazônia”. Esse projeto é um dos 22 inseridos no edital da Chamada 03/20 de projetos do Subprograma Agricultura Familiar de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCT) do REM MT.

Indicadores

Ao todo, o projeto conta com mais de 1.000 indicadores que norteiam a execução do trabalho do IOV. Dentre eles, estão o beneficiamento das ações implementadas para mais de 200 famílias da região, bem como a implantação de 800 hectares sob manejo de baixo carbono, envolvendo cultivos perenes, fruticultura, agrofloresta e pecuária leiteira.

É formado em Jornalismo. Possui experiência em produção textual e, atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT produzindo conteúdo sobre política, economia e esporte regional.