Polícia cumpre 84 ordens judiciais contra criminosos que fraudaram concurso de prefeitura de MT

Entre os investigados estão dois gestores públicos; esquema foi descoberto pela Polícia Civil durante apuração sobre o homicídio de um advogado

Fonte: Raquel Teixeira | Polícia Civil-MT

policia civil cumpre 84 ordens judiciais contra associacao criminosa que fraudou concurso de prefeitura de mt capa 2023 06 29 2023 06 29 666110119

A Polícia Civil de Mato Grosso deflagrou, na manhã desta quinta-feira (29.06), a Operação Ápate para cumprimento de 80 ordens judiciais contra alvos investigados por fraude em concurso público da Prefeitura de Mirassol d’Oeste.

A investigação, coordenada pelas Delegacias de Mirassol d’Oeste e São José dos Quatro Marcos, teve início durante a apuração de um crime de homicídio qualificado ocorrido em São José dos Quatro Marcos. A partir do compartilhamento das informações entre as delegacias foi aprofundada a investigação sobre o esquema arquitetado por um grupo para fraudar o ingresso no concurso, que ofertou vagas para cargos nas áreas de saúde, direito, educação, administração e serviços gerais, entre outras.

A operação cumpre 84 ordens judiciais, entre mandados de prisão, de busca e apreensão, afastamento de sigilo bancário, suspensão de função pública, suspensão de atividade econômica, medidas cautelares de monitoramento eletrônico e bloqueio de bens no valor de R$ 1,6 milhão.

Os mandados de buscas estão em cumprimento nas cidades de Glória d’Oeste, São José dos Quatro Marcos, Indiavaí, Araputanga, Rio Branco, Porto Esperidião, Lambari d’Oeste, Cuiabá e Mirassol d’Oeste.

[Continua depois da Publicidade]
Reprodução | InternetReprodução | Internet

Realização do concurso

Em 2020, a Prefeitura Municipal de Mirassol d’Oeste lançou o Edital nº 001/2020 para abertura de concurso público de provimento em cargos nos níveis fundamental, médio, técnico e superior. A vencedora para administrar o certame público foi a empresa Método Soluções Educacionais, com sede em Cuiabá, que realiza concursos para diversos órgãos públicos no estado.

Porém, diante da pandemia da covid-19, o concurso foi suspenso pela prefeitura por meio do Decreto Municipal 3.691/2020. Em 2021, o Edital Complementar 02/2021 da Prefeitura de Mirassol d’Oeste retomou o concurso, com a publicação de novo calendário de provas.

As provas para os cargos de níveis fundamental, técnico e médio foram aplicadas conforme o calendário estabelecido. Contudo, as provas de nível superior foram remarcadas para 27 de fevereiro de 2022, de acordo com o Edital Complementar 04/2022. O resultado final do concurso foi publicado no dia 04 de maio de 2022 e o certame homologado no dia 11 do mesmo mês, conforme o Decreto Municipal 4.213/2022.

Esquema e valores pagos

As diligências realizadas pelas Delegacias de Mirassol d’Oeste e de SJQM apontaram que no dia 21 de janeiro de 2022, ou seja, antes mesmo da aplicação das provas do concurso, o operador do esquema, J.R.P., já tinha a relação com os nomes de 35 aprovados. Mas as provas só seriam realizadas mais um mês depois, em 27 de fevereiro.

No decorrer das investigações, a Polícia Civil identificou vários pagamentos pela compra de vagas por parte das pessoas que constavam na lista encontrada com o operador do esquema. O valor cobrado pelos responsáveis pelo esquema fraudulento foi de 10 vezes o salário do cargo. Por exemplo, o salário inicial para o cargo de agente administrativo é de R$ 2.702,31 e a pessoa que supostamente ficaria com a vaga pagou R$ 27 mil à quadrilha. Os salários mais altos, conforme o edital, eram para os cargos de auditor público interno, no valor de R$ 7.038,25 e de médico em várias áreas de especializações, no valor de R$ 18.728,15.

Papéis no esquema

J.R.P. operava o esquema e era responsável por intermediar a compra do gabarito, entre candidatos e o dono da empresa responsável pela realização do concurso. Ele é proprietário de uma empresa que presta serviços para prefeituras na região Oeste do estado.

Outras pessoas envolvidas no esquema foram identificadas pela Polícia Civil, entre elas a chefe de gabinete da prefeitura e o vice-prefeito de Porto Esperidião. A investigação apontou que a mulher usou recurso público para pagar pela vaga no concurso para um familiar. Já o gestor público auxiliou o operador da fraude a fazer a troca dos gabaritos das provas do concurso.

[Continua depois da Publicidade]

A Justiça decretou as prisões preventivas do operador do esquema, do proprietário da empresa realizadora do concurso e da chefe de gabinete e do vice-prefeito de Porto Esperidião. A mulher também teve a suspensão do cargo determinada judicialmente.

Todas as pessoas responsáveis pela compra das 35 vagas aos cargos do concurso foram identificadas na investigação da Polícia Civil e também responderão criminalmente.

Ordens judiciais

Foram deferidas pela Justiça:

07 ordens de bloqueio de bens (valor aproximado de R$ 1,6 milhão);
09 medidas cautelares de monitoramento eletrônico;
18 afastamentos de sigilos bancários;
01 suspensão de exercício cargo público;
05 suspensão de atividade econômica, entre elas a da empresa realizadora do concurso;
40 buscas domiciliares;
04 prisões preventivas

Nome da operação

Ápate, na mitologia grega, era um espírito que personificava o engano, o dolo e a fraude. Narra a mitologia que Ápate foi um dos espíritos, junto com seu correspondente masculino, Dolos, o espírito das ardilosidades, que saiu da caixa de Pandora.

Apoiam a operação Ápate as delegacias da Regional de Cáceres e de Pontes e Lacerda, Delegacia Especializada de Fronteira, Diretoria Metropolitana e Politec.