Após 4 meses do 1º caso e em meio ao caos, negacionismo é ridículo, diz médico

Fonte: RD NEWS

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Christiano Antonucci Secom-MT

m 19 de março, a secretaria estadual de Saúde (SES) confirmou o primeiro caso da Covid-19 em Mato Grosso após um morador de Cuiabá testar positivo para a doença. Hoje, quatro meses depois, são 32.766 mil notificações da Covid-19, sendo que a maior alta começou a ser registrada em junho. Para o infectologista Abdon Salam Khaled, o negacionismo do potencial de destruição do novo coronavírus é uma das principais entraves à contenção da pandemia.

Comparar a Covid-19 com a dengue ou a tuberculose, por exemplo, não é lógica, é ridiculo. O negacionista beira o ridículo. Basta ir em uma funerária, somando todas as causas de morte, a Covid-19 mata duas vezes mais por dia”, Abdon Khaled.

“A falta de credibilidade das pessoas que lideram gera esse impacto. Comparar a Covid-19 com a dengue ou a tuberculose, por exemplo, não é lógica, é ridículo. O negacionista beira o ridículo. Basta ir em uma funerária, somando todas as causas de morte, a Covid-19 mata duas vezes mais por dia”, diz.

Relacionando o comportamento com os estágios do luto elaborados pela psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross, Abdon explica que o negacionista está vivendo o primeiro deles: a negação. Para ele, a pessoa que nega a realidade imposta pela pandemia está de luto.

No entanto, segundo ele, o principal problema do negacionismo é que outras vidas são colocadas em risco diariamente. Abdon afirma que a “única chance” de registrarmos índices menores de mortalidade, seria diminuir o número de casos confirmados. Porém, ele ressalta que é nesse ponto que mora o “problema”.

 “Principalmente no Brasil, que temos uma diferença muito alta na questão econômica, que acaba sendo aflorada em um momento como esse. Também estamos vivendo o impacto negativo das pessoas que lideram, é o pior de tudo: pessoas com poder de influência, políticos, médicos… conseguem falar muita besteira”, avalia.

UTIs lotadas

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De acordo com boletim divulgado ontem (17) pela SES, restam 20 UTIs disponíveis em Mato Grosso. Abdon conta que, há cerca de um mês e meio, começou a observar com os próprios olhos o desespero nas UTIs particulares.

Ele atua no Hospital Femina, em Cuiabá, e explicou que, assim como em outras unidades particulares, os leitos de UTI chegaram a ser ampliados. No entanto, o crescimento acelerado de pacientes Covid-19 que precisam ser entubados causou a lotação.

“Os casos iniciais começaram no privado, mas há um mês e meio a situação piorou. Não tem lugar para colocar doente mais. Está totalmente lotado. As pessoas precisam acreditam quando se fala que não há mais leitos”, alerta.

Futuro 

Questionado sobre em quais condições Mato Grosso deve “sair” da pandemia causada pelo novo coronavírus, Abdon resume em apenas uma palavra: dilacerado. Para ele, as sequelas psicológicas, econômicas e sociais deverão perdurar por décadas.

“Já vemos isso nas ruas, quando alguém está sem máscara, algumas pessoas já buscam manter a distância. Com certeza vamos sofrer um pouco com essas sequelas, nós médicos vemos isso de perto, famílias estão perdendo mais de uma pessoa para a doença”, conta.

Sobre a possibilidade de uma vacina, o infectologista descarta uma descoberta ainda em 2020. Para ele, a vacina deve chegar no momento em que a primeira fase da doença já passou. Abdon é um pouco mais otimista com estudos sobre medicamentos para curar a Covid-19.

A doença é desastrosa, mata muito e ficamos querendo algo mágico. Mas, infelizmente, não tem uma magia que vai curar tudo 

“É mais fácil porque são estudados e, as vezes, usam uma droga antiga e vão testando os resultados. Como tem acontecido com a dexametasona associada a corticóides em pacientes mais graves, sem oxigênio. É isso isso que temos hoje, além, é claro, de uma boa medicina intensiva”, explica.

Sobre os boatos em torno da cloroquina, azitromicina e ivermectina, medicamentos que acabaram se popularizando como “cura” da Covid-19, Abdon ressalta que, caso os gestores e a Federação unissem às forças destinadas a cloroquina, por exemplo, em UTIs e mão de obra, o “talvez a realidade fosse outra”.

“Do ponto de vista de prevenção, tomar remédio é muito fraco. A cloroquina foi a mais estudada, muitos serviços usaram muito, o mundo acabou usando, mas não tm eficácia nenhuma para Covid-19. Azitromicina mata a bactéria, não o vírus, mas como tem efeito em doenças pulmonares acaba sendo usada associada à cloroquina”, diz.

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Ele ainda ressalta que, com relação ao uso da ivermectina, os estudos científicas são ainda mais escassos. “A doença é desastrosa, mata muito e ficamos querendo algo mágico. Mas, infelizmente, não tem uma magia que vai curar tudo”.

O infectologista também considera que a quarentena obrigatória determinada pela Justiça em Cuiabá, Várzea Grande e outas cidades com muitos casos da doença pode trazer resultados no combate à pandemia. “Estamos vivendo o ‘pseudo locdown’, por mais que seja parcial, existem reflexos. Nos últimos dias os PAs não estão tão agitados, não está aquele horror”.

Redatora do portal CenárioMT, escreve diariamente as principais notícias que movimentam o cotidiano das cidades de Mato Grosso.