Índio Xavante que luta contra pandemia está na UTI com covid

Fonte: REPÓRTERMT

1 645

Um dos principais líderes indígenas em Mato Grosso à frente do combate à pandemia de coronavírus nas aldeias, Crisanto Rudzö Tseremey’wá está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal de Barra do Garças, com covid-19.

 

Presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Crisanto gravou um vídeo de dentro da UTI, na língua Xavante, para tentar despertar um cuidado maior por parte dos índios mato-grossenses. O vídeo tem pouco mais de dois minutos, tempo suficiente para perceber que Crisanto sofre com o problema da falta de ar.

 

[Continua depois da Publicidade]

O vídeo foi compartilhado na rede social de Crisanto e amigos. De acordo com os indígenas, ele faz uma relato do que está passando internado com o novo coronavírus, diz que está se recuperando na medida do possível.

 

Crisanto Xavante afirma que a mensagem busca a sensibilização e conscientização que a pandemia do novo coronavírus já chegou às aldeias e está sendo transmitida entre os povos indígenas.

 

Ele relata que para algumas pessoas o vírus se manifesta com sintomas fracos, outras precisam ser internadas, mas há aquelas que não têm sintomas, mas estão infectadas.

 

Esposa de Crisanto Xavante, Odila Guarani reforçou que ele “está bem na medida do possível” e agradeceu a todas as mensagens de apoio.

 

No dia 26 de março deste ano, Crisanto postou em suas redes sociais um texto falando da sua preocupação sobre a pandemia de covid-19. “Preocupado com nossos povos indígenas de Mato Grosso, estou passando este simples informe a aproximadamente (50) cinquenta mil pessoas de sete regiões de atuação da nossa Federação. Por favor meus parentes, fica em casa, na aldeia, na suas respectivas terras indígena, pois não tem ainda remedio para cura desse coronavirus (COVID 19)” (sic).

 

[Continua depois da Publicidade]

Reportagem especial Amazônia Real

No dia 31 de maio deste ano, o site Amazônia Real publicou uma longa entrevista com Crisanto, onde ele destacava a preocupação com outro “genocídio indígena”, desta causado pelo novo coronavírus.

Ele afirmou ao site que garantir a assistência social e o acesso à saúde dos povos tradicionais tem sido um grande desafio no contexto da pandemia, principalmente pela descontinuidade de políticas públicas do governo federal voltadas para a estruturação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) nos estados. “Os distritos têm servido como apenas estágio de passagem para os médicos. Não há equipes fixas multidisciplinares preparadas para atender às especificidades de cada etnia”, disse em entrevista à Amazônia Real.

Crisanto diz que as políticas indigenistas de Bolsonaro têm incentivado o governo de Mato Grosso a emplacar projetos de lei na Assembleia Legislativa que flexibilizam o garimpo e as invasões. No entendimento da liderança Xavante, essas ações contribuem ainda mais para o avanço da pandemia. “Agora com as invasões, o vírus vem junto. Isso aumenta ainda mais a fragilidade dos povos indígenas, principalmente no bioma amazônico”.

A liderança também se mostrou preocupada com as aldeias próximas às cidades ou que possuem seus territórios cortados por rodovias, situações que podem facilitar a penetração do novo coronavírus. “Há aldeias que estão apenas a 20 quilômetros da cidade. É quase que inevitável a circulação de indígenas na cidade e a de não indígenas nas aldeias”.

Ele afirmou que a ameaça da covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, tem que ser tratada como “perigo permanente”, principalmente pela vulnerabilidade imunológica dos povos indígenas brasileiros que, desde 1500, são acometidos por doenças externas, que já dizimaram muitas etnias. “Para mim, a Covid-19 não é diferente da varíola, do sarampo, da gripe e da caxumba, que mataram muitos dos meus irmãos. Não queremos outro genocídio”, alerta.

Um levantamento da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que reúne a estatística da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, apontou 731 casos confirmados da covid-19 e 116 mortes, de acordo com o boletim divulgado no último dia 25 de maio. Um dos povos mais afetados é o Kokama, de Amazonas, que já perdeu 51 pessoas, entre eles, nove lideranças. Entre os Xavantes são três casos confirmados e uma morte, de um bebê, em Mato Grosso.

VEJA O VÍDEO GRAVADO NA LÍNGUA XAVANTE