Ferrovia em Cuiabá, a hora da decisão

Fonte: CENÁRIOMT

1 665

* Carlos Avallone

Uma das mais antigas lutas da sociedade mato-grossense, a chegada da ferrovia a Cuiabá, está prestes a ter o seu desfecho. Uma luta que remonta ao primeiro ano do século XX, quando o escritor e jornalista Euclides da Cunha defendeu a construção de uma ponte sobre o rio Paraná, para a ligação ferroviária entre São Paulo e Mato Grosso. A concretização desta ideia só aconteceria em 1974, quando o deputado federal Vicente Vuolo apresentou projeto alterando o Plano Nacional de Viação e incluindo a ligação SP/ MT.

A partir daí, sucederam-se vários capítulos desta luta impulsionada pelo visionário Vicente Vuolo, que anteviu o futuro próspero de MT a partir da superação das barreiras da logística de transportes. Luta que mereceu o apoio de vários governadores e presidentes, de deputados e senadores. Em 1998 o governador Dante de Oliveira e o vice de São Paulo, Geraldo Alckmin, inauguravam a Ponte Rodoferroviária Rollemberg-Vuolo, ligando Rubinéia (SP) a Aparecida do Taboado (MS), superando a última grande barreira física para a chegada dos trilhos.

Em 1999, no governo Dante, do qual tive a honra de participar, os trilhos entraram em MT via Alto Taquari. Dante ainda trabalhou até 2001 para assegurar a conclusão do trecho até Alto Araguaia.  Dez anos depois era inaugurado o terminal de Rondonópolis, que já assegura a retirada da grande produção de grãos, além de trazer diferentes cargas da região sul.

[Continua depois da Publicidade]

Faço este breve resgate histórico para mostrar que esta luta, resultado dos esforços de tantas lideranças políticas, empresariais e comunitárias, não pode ter resultado diverso da chegada dos trilhos a Cuiabá. Seria até uma desonra aos que deram o melhor de suas vidas e capacidade de trabalho por esta nobre causa. Nobre, acima de tudo, porque estamos falando de uma verdadeira transformação na economia e na vida de milhares de pessoas, de geração de empregos, de aquecimento da economia de toda a baixada cuiabana onde vivem mais de 1 milhão de pessoas.

A viabilidade da construção de um terminal na grande Cuiabá foi confirmada pela concessionária no dia 9 de julho de 2019, na sede da Fiemt, durante audiência pública por nós requerida, em sessão conjunta com o Senado Federal. Na ocasião, a Rumo fez um compromisso com a comunidade ao confirmar a viabilidade econômica do terminal na grande Cuiabá.  Estudos da concessionária detectaram uma grande capacidade de cargas na região, um potencial de 20 milhões de toneladas/ano para produtos que vêm de SP.

A diretoria da Rumo tem conhecimento do apoio e da participação efetiva das forças politicas e sociais na superação das barreiras desde a década de 70. No dia 27 de maio, comemoramos a renovação antecipada da concessão da Malha Paulista, uma das condicionantes para a expansão dos trilhos em MT. Ela garantiu à Rumo mais 30 anos de operação daquele trecho, em troca de R$ 6,1 bilhões em novos investimentos.

A renovação aprovada pela ANTT e TCU foi o resultado de quase cinco anos de tratativas entre governo federal, empresa e órgãos de controle. Este processo teve o apoio efetivo de lideranças como o senador Wellington Fagundes, presidente da Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura, do senador Jayme Campos, do federal Neri Geller, da ALMT, do Fórum Pró-Ferrovia e do governador Mauro Mendes, entre outros agentes.

Logo depois da assinatura do aditivo, a Rumo confirmou que a prioridade será a extensão da malha ferroviária em MT, levando os trilhos às regiões produtoras. Nos últimos dias, tomamos conhecimento de iniciativas da concessionária como a aquisição de área para um terminal em Nova Mutum. Não recebemos informações sobre providências semelhantes em relação a Cuiabá, o que aumentou nossa preocupação.

Agora é o momento da decisão, de assegurar definitivamente a extensão dos trilhos a Cuiabá. Por isso, estamos reforçando a união da sociedade em torno da realização deste sonho de todos nós. A construção de um novo terminal é prioridade para toda a baixada cuiabana, que terá sua economia revitalizada, e pode ser compatibilizado com o acesso às regiões produtoras.

Não podemos permitir que esta luta histórica seja prejudicada, em detrimento das necessidades da população da Grande Cuiabá. Aguardamos uma manifestação da concessionária, esclarecendo objetivamente sobre o trajeto da expansão da ferrovia, ao mesmo tempo em que continuamos trabalhando com o apoio decisivo da classe política, do setor produtivo, de entidades representativas como a Fiemt e Fecomércio, do movimento comunitário e da sociedade organizada em geral.

A luta de Vuolo e de todos nós pela ferrovia em Cuiabá não vai parar!

*Carlos Avallone é deputado estadual pelo PSDB e preside o Observatório Socioeconômico da ALMT