Na véspera em que Vladimir Herzog completaria 88 anos, a Advocacia-Geral da União (AGU) formalizou um acordo de reparação à sua família, em um ato simbólico com a presença de ex-presos políticos.
O acordo prevê o pagamento de R$ 3 milhões por danos morais, incluindo valores retroativos da reparação econômica à viúva Clarice Herzog, com manutenção de prestações mensais. Herzog, assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi, foi uma das vítimas emblemáticas da ditadura militar brasileira.
Durante coletiva de imprensa, Ivo Herzog, filho do jornalista e atual diretor do Instituto Vladimir Herzog, criticou a atuação da AGU na época da execução do pai. Ele lembrou que Clarice foi constrangida ao depor na Corte Interamericana de Direitos Humanos e destacou que, agora, a instituição passa a atuar de forma mais humana, democrática e respeitosa.
“Hoje vemos uma nova AGU, que rompe com o passado e valoriza o Estado Democrático de Direito pelo qual meu pai sonhou e minha mãe lutou”, afirmou Ivo.
Além do impacto simbólico, o acordo reacende o debate sobre a revisão da Lei da Anistia, de 1979. Ivo defendeu que o Supremo Tribunal Federal leve o tema ao plenário, afirmando que o silêncio institucional prolonga a dor de famílias de desaparecidos e permite a distorção do conceito de anistia por grupos antidemocráticos.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, ressaltou que o gesto da AGU tem como objetivo restaurar a confiança da sociedade no Estado, que por décadas representou medo e violência. “A reparação reafirma que o povo brasileiro é o verdadeiro destinatário das ações do Estado”, declarou.
Herzog, nascido na então Iugoslávia e radicado no Brasil, era diretor de jornalismo da TV Cultura quando foi preso e morto após se apresentar voluntariamente ao DOI-Codi. Os militares tentaram forjar um suicídio, mas a versão foi rapidamente desmentida por evidências e mobilizou uma reação popular histórica: mais de 8 mil pessoas participaram da missa de 7º dia na Catedral da Sé, em São Paulo.
Além de jornalista, Herzog também era filósofo, professor e cineasta, tendo participado de produções como Marimbás e Subterrâneos do Futebol. Seu legado, hoje reforçado por atos como o da AGU, segue como símbolo da luta pela democracia e pela memória das vítimas da ditadura.