‘Deepfake ao vivo’: tecnologia que muda rosto e voz em videochamada, como na novela ‘Travessia’, já existe na vida real

Fonte: G1

'Deepfake ao vivo': tecnologia que muda rosto e voz em videochamada, como na novela 'Travessia', já existe na vida real
'Deepfake ao vivo': tecnologia que muda rosto e voz em videochamada, como na novela 'Travessia', já existe na vida real

Cenas de um pedófilo que se passa por uma adolescente em videochamada têm viralizado nas redes sociais: a situação é retratada na novela “Travessia” (TV Globo).

A personagem Karina (vivida pela atriz Danielle Olímpia) chegou até mesmo a tirar a roupa em frente às câmeras, acreditando que quem estava do outro lado era a sua amiga virtual.

Na trama, o criminoso tem seu rosto e voz modificados por um programa de computador, podendo enganar com facilidade quem o vê do outro lado.

Especialistas contaram que a tecnologia já existe na vida real. É tão nova que nem nome oficial possui, podendo ser chamado, por enquanto, de “deepfake ao vivo” ou “deepfake live”.

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Apesar de ela já poder ser usada em golpes, existem dois entraves:

  • a tecnologia ainda não tem a perfeição simulada na novela;
  • por ter qualidade acima da média, exige investimentos na casa dos R$ 150 mil em equipamentos. Por isso, segundo os entrevistados, ela não é tão visada por quem pretende enganar outras pessoas, sobretudo crianças mais novas, que costumam ser alvos preferenciais de pedófilos e dificilmente percebem as falhas que podem aparecer em uma chamada.

Confira a seguir o que se sabe sobre o “deepfake ao vivo” e como reconhecer um facilmente.

O que é ‘deepfake ao vivo’

“Deepfake” é uma tecnologia que permite mostrar o rosto de uma pessoa em fotos ou vídeos alterados com ajuda de inteligência artificial (IA).

O material falso é criado a partir de conteúdos verdadeiros da pessoa que são modificados por meio de aplicativos ou programas de edição que já existem no mercado.

O “deepfake” simulado na trama de Glória Perez tem a mesma ideia, porém é feito em tempo real, sem qualquer edição. Essa solução é nova — surgiu em 2022 — e é uma evolução do “deepfake” que conhecido hoje, explica Fernando Oliveira, conhecido como Fernando 3D, especialista no tema e em inteligência artificial da FaceFactory.

Fazer um “deepfake ao vivo” com a qualidade que é mostrada na novela exige um computador potente com capacidade para processar as alterações em tempo real.

Segundo Fernando 3D, seria necessário desembolsar muito dinheiro em equipamentos para chegar a esse nível. Mas também é possível fazê-lo com menos gastos, usando apps mais baratos, só que de qualidade bem inferior.

“Para conseguir a qualidade que é exibida na novela, não dá para usar só software (programa ou aplicativo). É preciso programar, com algoritmos que trabalham com dados e códigos”, explica Fernando 3D.

Esses algoritmos vão processando dados, que são a imagem e a voz de uma pessoa. Quanto mais dados, maior a eficiência do “deepfake” ao vivo, explicam os especialistas.

Bancos de dados (de rosto e voz) são alimentados por pessoas reais, por isso os famosos pode ser mais visados, já que existe mais conteúdo online com eles.

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“Quanto mais dados existirem publicamente, mais fácil será capturar e tratar eles para essa finalidade [de ‘deepfake ao vivo’]”, afirma Alberto Luiz Albertin, professor e coordenador na área de TI e Transformação Digital da FGV EAESP.

É usado por criminosos?

O “deepfake ao vivo” já está sendo usado em golpes, mas não com o mesmo nível de perfeição demonstrado na novela “Travessia”, explica Anderson Rocha, especialista em computação aplicada ao combate à pedofilia e diretor do Instituto de Computação da Universidade de Campinas (Unicamp).

Redatora do portal CenárioMT, escreve diariamente as principais notícias que movimentam o cotidiano das cidades de Mato Grosso. Já trabalhou em Rádio Jornal (site e redação).