Sanções à Rússia: como fica o comércio com o Brasil?

Fonte: G1

15 162

Com o endurecimento do conflito no Leste Europeu, o fim de semana ficou marcado por novas sanções econômicas impostas à Rússia. Há implicações diretas e indiretas para a economia brasileira.

O pacote anunciado neste neste sábado inclui a retirada dos principais bancos da Rússia do sistema Swift, serviço global de telecomunicações entre instituições financeiras no mundo.

Na prática, a medida impede a transferência de dinheiro e paralisa o comércio entre produtores russos e seus compradores. Impossibilitados de transacionar no Swift, um lado não pode faturar e o outro não pode pagar pelas mercadorias.

Com isso, para economistas nesta segunda-feira (28), o Brasil enfrentará o choque das sanções especialmente em duas frentes: o impedimento de livre comércio com a Rússia e os impactos das medidas nos preços de commodities.

[Continua depois da Publicidade]

Produção agrícola

Das 100 categorias mais importadas pelo Brasil no mercado global, 8 vêm da Rússia. A maior parte é de produtos químicos e fertilizantes usados na produção agrícola brasileira – um dos motores do PIB do país, mesmo em tempos de crescimento lento.

Mesmo que não haja um desabastecimento, o agronegócio brasileiro pode ter que repassar preços relevantes da safra, prolongando a inflação mais alta de alimentos que atinge o país desde o início da pandemia do coronavírus.

O Brasil ainda perde um mercado relevante destes mesmos produtos agrícolas. Em 2021, a Rússia importou quase US$ 350 milhões de soja brasileira, mais de US$ 320 milhões em carnes e US$ 130 milhões de café em grão.

Ainda assim, a Rússia é apenas o 35º maior comprador de produtos brasileiros.

“O processo de ‘apreensão pelo conflito’ já agitou o mercado de fertilizantes há meses. Agora, é importante o Brasil buscar novos fornecedores e ter uma estratégia de médio prazo para um menor repasse de preços”, diz Gesner Oliveira, sócio da consultoria GO Associados.

Petróleo, trigo e outras commodities

Em impacto indireto para o Brasil, a Rússia também terá choques na exportação de petróleo, gás natural, trigo e outras commodities. A redução repentina de oferta desses produtos eleva o preço de todos eles no mercado internacional, com efeitos indiretos no Brasil.

A referência mais clara para os brasileiros nos tempos atuais é o petróleo, que reajusta o preço da gasolina, do diesel, dos derivados como borracha e plástico, além de encarecer o valor de toda e qualquer mercadoria que demande transporte.

Mas os efeitos em cadeia se espalham por muitos outros produtos. O gás natural produzido na Rússia é fonte de energia para todos os produtos industrializados na Europa, que eventualmente ficarão mais caros aqui.

Mesmo que o Brasil não importe boa parte do trigo diretamente da Rússia, o preço mais alto no mercado internacional pela restrição de oferta encarece a importação e impacta no preço de derivados, como o pãozinho, biscoitos e massas.

“Os problemas no mercado de commodities vão continuar por um tempo porque há consequências políticas da guerra e a Rússia terá dificuldades crescentes de investimentos e financiamento nos próximos anos”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Bloqueio das reservas

Em outra sanção importante, a União Europeia proibiu transações com o Banco Central da Rússia, o que faz boa parte das reservas financeiras ser “congelada”.

[Continua depois da Publicidade]

A medida é considerada tão pesada quanto a exclusão do Swift, pois impossibilita que a Rússia use esses recursos para estabilizar o rublo russo e tira a inflação do país do controle. É mais um fator de instabilidade em uma economia grande, que reverbera no mercado global.

De partida, houve desvalorização do rublo, com queda acentuada de 30% em relação ao fechamento de sexta-feira, e disparada dos juros, que saltaram de 9,5% para 20% em uma medida de emergência.