Festival Latinidades destaca protagonismo negro no debate sobre trabalho digno

Evento em Brasília reuniu especialistas para discutir a redistribuição do trabalho de cuidados e os desafios enfrentados por jovens mulheres negras no mercado de trabalho.

Fonte: CenárioMT

Brasília (DF) 24/07/2025 - Andressa Franco, Carmela Zigone, Rosemeire Bezerra, Eliane Barbosa, participam do painel Justiça fiscal e reparação para mulheres negras no 18º Festival Latinidades 2025, no
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O 18º Festival Latinidades foi palco de importantes reflexões sobre o trabalho digno e o papel das mulheres negras na sociedade brasileira. Realizado no Museu Nacional da República, em Brasília, o evento coincidiu com a publicação do decreto que regulamenta o Plano Nacional de Cuidados (PNC), estabelecendo diretrizes para redistribuir de forma mais justa as responsabilidades do trabalho de cuidados no país.

A fundadora do festival, Jaqueline Fernandes, ressaltou o foco do encontro: jovens negras e suas oportunidades no mercado de trabalho. Em parceria com o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), o evento promoveu o aprofundamento de debates sobre desigualdade, racismo e equidade de gênero.

Na abertura do encontro, a secretária nacional de Cuidados e Família do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), Laís Abramo, apresentou dados que revelam que 75% do trabalho de cuidados no Brasil é realizado por mulheres, sendo 45% negras e 25% trabalhadoras domésticas. Abramo defendeu a divisão de responsabilidades entre gêneros, famílias, comunidades, empresas e o Estado.

O professor Breitner Luiz Tavares, da Universidade de Brasília, abordou a herança colonial que mantém mulheres negras vinculadas historicamente ao trabalho de cuidados, e reforçou a necessidade de políticas públicas construídas com participação ativa das próprias mulheres afetadas.

Luanda Mayra, coordenadora de Juventudes Negras do Ceert, destacou que o reconhecimento do cuidado como trabalho é essencial para sua valorização e remuneração justa. Para ela, transformar essa realidade exige colocar as juventudes no centro das decisões políticas.

Gisele Santos, da Rede de Ativistas do Fundo Malala, afirmou que o cuidado imposto às mulheres negras é uma continuidade da lógica escravocrata e defendeu que a nova política de cuidados seja pautada pelas vivências dessas mulheres.

Cássia Caneco, do Instituto Pólis, compartilhou sua experiência pessoal para reforçar que a política de cuidados deve ser reparatória e estruturante, promovendo uma nova lógica social baseada na equidade.

Kellen Vieira, produtora do Latinidades, apresentou dados que mostram que 90% dos profissionais negros da economia criativa são autônomos e 97% já presenciaram episódios de racismo. Ela questionou se o mercado está preparado para acolher profissionais negras com ensino superior.

Já Ronaldo Crispim, do Ministério do Trabalho, afirmou que o setor privado ainda está distante da equidade. Mulheres negras recebem menos da metade do salário de homens brancos em cargos semelhantes, mesmo com políticas públicas e objetivos internacionais em curso.

Andreia Alves, da Ação Educativa, propôs repensar os modos de vida e adotar o conceito de “bem viver”. Ela defendeu a esperança ativa como ferramenta de transformação social, destacando a potência das jovens mulheres negras.

O Festival Latinidades segue até o dia 31 de julho com debates sobre temas como a Lei da Aprendizagem e os impactos das mudanças climáticas na dignidade do trabalho futuro para as juventudes negras.

Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.