Polícia militar indiciará quatro agentes por estupro de indígena no Amazonas

Quatro policiais militares do Amazonas serão indiciados por estuprar uma indígena que ficou nove meses presa em condições precárias na delegacia de Santo Antônio do Içá.

Fonte: CenárioMT

Santo Antônio do Içá (AM), 23/07/2025 - Integrante da comitiva do Ministério Público do AM, abraçando a mulher indígena que afirma ter sido violentada por quatro policiais e um guarda-municipal. Foto:
Polícia militar indiciará quatro agentes por estupro de indígena no Amazonas - Foto: MPAM/Divulgação

A Polícia Militar do Amazonas anunciou o indiciamento de quatro de seus agentes acusados de estuprar uma indígena de 29 anos durante o período em que ela esteve detida por nove meses na 53ª Delegacia de Santo Antônio do Içá, no sudoeste do estado.

O Inquérito Policial Militar (IPM), responsável pela apuração interna, está próximo da conclusão e apresenta indícios suficientes para confirmar os relatos da vítima, cuja identidade permanece protegida por questões de segurança.

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Com o indiciamento, os policiais passarão a ser formalmente investigados no âmbito criminal, cabendo ao Ministério Público decidir sobre eventual denúncia que possa levá-los a julgamento.

Procedimento disciplinar e medidas administrativas

Além do indiciamento criminal, os quatro agentes respondem a processo administrativo disciplinar que pode culminar na expulsão da corporação. Enquanto as investigações prosseguem, eles foram afastados das atividades operacionais e tiveram suas armas recolhidas.

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A Polícia Militar reafirma que repudia veementemente os atos denunciados e não tolera condutas que infrinjam os princípios legais e éticos da instituição.

Paralelamente, a Polícia Civil conduz inquérito pela Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (Deccm), e a Corregedoria-Geral de Justiça também investiga o caso.

Contexto da denúncia

As acusações vieram à tona em reportagem divulgada no dia 18 de julho, revelando que a mulher, pertencente à etnia Kokama, teria sido violentada entre novembro de 2022 e agosto de 2023, enquanto aguardava transferência para Manaus.

Documentos oficiais indicam que ela ficou em uma cela improvisada, dividindo o espaço com presos do sexo masculino devido à ausência de estrutura adequada para mulheres no município. Durante cerca de dois meses, manteve seu filho recém-nascido junto na cela, por falta de alternativa, já que sua família não tinha condições de cuidar da criança.

Histórico judicial da vítima

O advogado da indígena informou que ela cumpre pena por homicídio desde 2018, tendo inicialmente obtido prisão domiciliar em 2020 para viver com a mãe em Santo Antônio do Içá. Em novembro de 2022, foi novamente presa por um novo mandado, sem ter sido comunicada previamente.

Condições precárias na delegacia

Segundo o advogado, a polícia local não dispunha de local adequado para abrigar a mulher, que permaneceu em corredor improvisado ao lado de presos masculinos considerados de menor periculosidade. A transferência para Manaus foi solicitada com urgência pelo delegado, mas não foi realizada devido a dificuldades logísticas e financeiras da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária.

A situação da criança junto à mãe na cela foi a solução adotada para permitir a amamentação, ainda que não se saiba se houve autorização judicial para essa medida.

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Um criador de conteúdo e entusiasta de jogos e tecnologia, trabalha como redator no CenárioMT, é analista de TI e game designer no tempo livre.