“Isso não acabou”: filha de Gleici Oliboni reage com revolta à homologação de laudo que declara inimputável o assassino da mãe

Fonte: CenarioMT

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A homologação do laudo psiquiátrico que declarou Daniel Frasson inimputável pelo assassinato da terapeuta capilar Gleici Oliboni, ocorrido em junho deste ano na casa da família no bairro Bandeirantes, em Lucas do Rio Verde, provocou forte reação em todo o Estado. Entre as vozes mais contundentes está a da filha da vítima, a biomédica esteta Caroline Fernandes, que publicou um longo e doloroso desabafo nas redes sociais após a decisão. O texto, rapidamente replicado pela página criada para pedir justiça por Gleici, reacendeu o debate sobre violência doméstica, responsabilização e os limites entre doença mental e escolhas conscientes.

No crime que chocou Mato Grosso, Gleici foi morta a facadas dentro de casa. A filha do casal, de apenas 7 anos, também foi esfaqueada pelo pai. Sobreviveu após 22 dias internada em UTI em Cuiabá, onde passou por cirurgias e tratamentos complexos. Hoje, ainda enfrenta cicatrizes físicas e emocionais, medo para dormir, terapias contínuas e limitações motoras, como relata a postagem de Caroline.

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Laudo questionado

A revolta da filha se intensificou diante da conclusão pericial que, ao afirmar que Daniel Frasson era incapaz de compreender seus atos no momento do crime, poderá impedir que ele cumpra pena em regime prisional. Para Caroline, a decisão ignora comportamentos e rotinas que, segundo ela, sempre demonstraram plena lucidez.

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“Como alguém que se formou, que trabalhava, que já teve carteira assinada, que dirigia, que fazia todas as atividades rotineiras possíveis pode ser dito como ‘mentalmente insano’?”, questiona. No relato, ela contesta justificativas apresentadas ao longo do processo, como depressão, uso de medicamentos ou supostos surtos psicóticos. “Às vezes parece uma piada de muito mau gosto”, desabafa.

Caroline relembra episódios do cotidiano familiar que, para ela, evidenciam comportamento calculado e emocionalmente abusivo: discussões por motivos triviais, controle financeiro rígido, tentativas de estragar datas importantes para a mãe e demonstrações de frieza diante das conquistas de Gleici. “Maldade, crueldade, egoísmo, inveja. Não são doenças. São escolhas”, afirma.

O desabafo cresce em intensidade quando ela descreve o momento do crime. Segundo a biomédica, o pai teria abraçado a filha pedindo desculpas por assassinar a mãe enquanto a criança dormia ao lado. Depois, golpeou a menina oito vezes — quatro facadas nas costas e quatro no peito. “Como alguém ‘incapaz de compreender o que estava fazendo’ faz tudo isso, liga para o irmão contando o que fez e conversa ao telefone? Silêncio em depoimento não é surto, é autodefesa”, escreve.

Reações

A publicação gerou grande repercussão e foi endossada por lideranças políticas. A deputada estadual Janaina Riva classificou o texto de Caroline como “devastador” e afirmou que a decisão judicial coloca em xeque a confiança da população na Justiça. “Que recado as leis querem passar? É nessa Justiça que esperam que confiemos?”, questionou.

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A parlamentar anunciou que a Procuradoria da Mulher da Assembleia Legislativa acionará o Ministério Público para que o depoimento de Caroline seja considerado na contestação do laudo psiquiátrico. “Não podemos assistir, de braços cruzados, a assassinos de mulheres escaparem da prisão de maneira tão covarde”, declarou.

Justiça

Caroline encerra o texto dizendo que ainda acredita na Justiça, apesar da dor e das marcas que o crime deixou. Para ela, o mínimo que sua mãe merece é que o assassino responda pelo que fez; o mínimo que sua irmã merece é a garantia de segurança e a certeza de que, um dia, entenderá que houve responsabilização.

“Isso não acabou”, escreveu. Uma frase que ecoa na mobilização crescente por justiça por Gleici Oliboni, símbolo de um caso que expôs fragilidades, provocou indignação coletiva e reacendeu a pressão por respostas firmes diante da violência contra mulheres em Mato Grosso.

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Jornalista formado (DRT 0001781-MT), atua no CenárioMT na produção de conteúdos sobre política, economia, esportes e temas do agronegócio em Mato Grosso. Com experiência consolidada na redação e apuração regional, busca entregar informação clara e contextualizada ao leitor. Aberto a pautas e sugestões. Contato: celsofnery@gmail.com .