O Ministério Público de São Paulo apresentou denúncia contra três policiais militares por tentativa de homicídio contra o motoboy Evandro Silva. O episódio ocorreu durante a Operação Escudo, deflagrada em julho de 2023 após a morte de um policial na Baixada Santista. A ação policial resultou oficialmente em 28 mortos ao longo de 40 dias.
Em 30 de agosto de 2023, Evandro foi alvejado dentro do imóvel onde trabalhava, no Morro do José Menino, em Santos. Minutos antes, ele havia sido revistado e identificado como egresso do sistema prisional. No momento do ataque, estava se trocando no banheiro quando um disparo de calibre 12 atravessou a janela. Mesmo ferido, conseguiu escapar pela janela, caindo de sete metros de altura sobre uma pedra, onde foi atingido novamente por tiros de pistola.
Os policiais presumiram sua morte, mas ele retomou a consciência quando um socorrista do Samu verificou seus sinais vitais. Evandro permaneceu hospitalizado e só acordou duas semanas depois. O caso ganhou repercussão com a divulgação de imagens de câmeras corporais, que mostram que o motoboy não estava armado nem reagiu, contrariando a versão dos agentes.
O processo segue sob segredo de justiça, assim como outras 21 investigações ligadas à operação. Até o momento, 17 foram arquivadas, enquanto duas levaram à denúncia de outros cinco policiais. Um relatório da Universidade Federal Fluminense (UFF), divulgado em setembro de 2024, já havia apontado falhas graves nas apurações sobre a Operação Escudo.
Em nota à imprensa, Evandro declarou que a denúncia traz um sentimento de reconhecimento. “É impossível não lembrar de tudo o que passei. Essa denúncia não apaga o que vivi, mas mostra que minha voz foi ouvida e a verdade começa a ser reconhecida”, afirmou. Ele acrescentou que sobreviver foi um ato de resistência e que vê no avanço judicial uma esperança de responsabilização dos envolvidos.
O motoboy encerrou a mensagem reforçando que deseja que outras famílias não passem pela mesma dor. “Justiça não devolve o que foi perdido, mas é o mínimo para acreditar em um futuro de respeito e dignidade”, disse. Evandro ainda agradeceu o apoio de organizações como as Mães de Maio, Conectas e a Defensoria Pública.