Milhares de mulheres negras ocuparam a orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo (27), durante a XI Marcha das Mulheres Negras. O ato teve como lema “Contra o racismo, por Justiça e Bem-Viver” e reuniu diversos coletivos de todo o estado em uma mobilização por direitos, memória e resistência.
A data foi escolhida em alusão ao Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, e também ao aniversário da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participou da marcha ao lado da mãe, Marinete Silva, e da sobrinha, Luyara Franco.
“Estamos aqui com muitas mulheres negras gritando por resistência. Sabemos o que é estar de todos os lados da trincheira”, afirmou a ministra.
A manifestação reforçou pautas históricas como o direito ao bem-viver, conceito que, segundo Jupi Conceição, do Fórum Estadual de Mulheres Negras, envolve liberdade, segurança, alimentação e o fim da violência contra as mulheres. A faixa principal da marcha foi conduzida por jovens e meninas negras, simbolizando a continuidade do movimento.
Casos emblemáticos de violência estatal também foram lembrados. Mães como Rafaela Mattos, cujo filho João Pedro foi morto em 2020 por policiais, exigiram justiça. Após reviravolta judicial recente, o caso deve ir a júri popular, mas ainda sem data definida.
“Temos esperança, mas ainda convivemos com medo. O racismo e o fato de João ter sido morto numa favela explicam a demora da justiça”, declarou Rafaela.
Mônica Cunha, cofundadora do Movimento Moleque, destacou a desigualdade racial: “Marchamos para mostrar que, mesmo diversas, seguimos tendo que transformar dor em luta. Isso precisa mudar”.
Também foi evidenciada a necessidade de maior representatividade política para mulheres negras. Richelle da Silva Costa, do movimento Mulheres Negras Decidem, reforçou que a ausência nos espaços de poder perpetua vulnerabilidades. “Somos o maior grupo demográfico do país e queremos construir políticas públicas a partir das nossas vivências.”
A marcha também serviu como preparação para a II Marcha Nacional das Mulheres Negras, agendada para 25 de novembro, em Brasília.