Financiamento climático no Brasil aprofunda desigualdades, aponta estudo da Oxfam

Relatório da Oxfam Brasil revela que o financiamento climático do país é insuficiente e desigual, afetando principalmente populações negras, indígenas e periféricas.

Fonte: CenárioMT

Financiamento climático no Brasil aprofunda desigualdades, aponta estudo da Oxfam
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Um estudo da Oxfam Brasil expõe a desigualdade no financiamento climático no país e alerta para o aprofundamento das exclusões sociais. No relatório Encruzilhada Climática, a organização destaca que as lacunas orçamentárias ampliam desigualdades raciais, de gênero e territoriais, atingindo de forma mais severa as populações vulneráveis.

As regiões Norte e Nordeste, que concentram os menores índices de renda e as maiores proporções de população preta, parda, indígena e quilombola, estão entre as mais afetadas. Favelas e periferias, onde 73% da população é negra, também sofrem com a falta de infraestrutura para enfrentar secas e enchentes.

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“Estamos diante de um racismo ambiental evidente. A crise climática escancara e aprofunda injustiças históricas. Não haverá transição justa sem enfrentar o racismo, a desigualdade de gênero e a concentração de terras”, afirmou Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

O levantamento critica a postura do Estado brasileiro, que, segundo a organização, ainda é predominantemente reativa, liberando créditos apenas após desastres — como os R$ 111,6 bilhões destinados às enchentes no Rio Grande do Sul em 2024.

O relatório destaca que apenas 12% dos R$ 185 bilhões previstos no Plano Plurianual 2024-2027 para ações climáticas são voltados à adaptação, etapa essencial para proteger comunidades mais expostas.

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Orçamento desigual

De acordo com o estudo, em 2023, a área de gestão ambiental recebeu apenas 0,34% do total do Orçamento da União. Isso significa que, a cada R$ 300, menos de R$ 1 foi destinado à proteção ambiental. Enquanto isso, setores de alta emissão de carbono, como agricultura e transporte, receberam R$ 90,25 bilhões e R$ 43,91 bilhões, respectivamente.

O Fundo Clima, por sua vez, contou com R$ 10,4 bilhões, valor muito inferior aos R$ 400 bilhões do Plano Safra 2024/2025.

“Essa escolha orçamentária revela uma prioridade perversa: privilegia setores que intensificam a crise climática em detrimento da proteção das pessoas e territórios mais vulneráveis”, reforçou Santiago.

O relatório propõe medidas para garantir justiça climática e social no Brasil, entre elas:

  • incluir recortes de raça, gênero e território em todas as políticas climáticas;
  • assegurar a participação de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais nas decisões;
  • priorizar recursos para adaptação em territórios vulneráveis; e
  • condicionar o crédito rural à adoção de práticas sustentáveis e à redução de emissões.
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Gabriela Cordeiro Revirth, independente jornalista e escritora, é uma pesquisadora apaixonada de astrologia, filmes, curiosidades. Ela escreve diariamente para o Portal de Notícias CenárioMT para partilhar as suas descobertas e orientar outras pessoas sobre esses assuntos. A autora está sempre à procura de novas descobertas para se manter atualizada.