Clara Charf, uma das principais figuras da resistência à ditadura militar no Brasil, completa 100 anos nesta quinta-feira (17). Conhecida por sua atuação em defesa da democracia, dos direitos das mulheres e da justiça social, Clara foi companheira de Carlos Marighella, militante assassinado pelo regime em 1969.
Durante a juventude, Clara já demonstrava inquietação. Tornou-se aeromoça nos anos 1940, profissão ainda estigmatizada na época. Aos 16 anos, iniciou sua militância política. Em 1946, filiou-se ao Partido Comunista e, no ano seguinte, casou-se com Marighella. A trajetória do casal esteve ligada à luta pela transformação social no país.
Após o golpe militar de 1964, Clara passou a ser perseguida e foi presa. Com o assassinato de Marighella, exilou-se em Cuba, onde permaneceu por dez anos. O reencontro com a família aconteceu em 1975, em Portugal. Retornou ao Brasil em 1979, com a promulgação da Lei da Anistia.
Desde então, Clara engajou-se na luta política e na defesa dos direitos das mulheres. Foi candidata a deputada estadual em 1982, pelo PT, e passou a atuar em iniciativas como o movimento Mulheres pela Paz, que coordenou no Brasil a partir de 2005. A proposta era indicar mil mulheres ao Nobel da Paz, entre elas 52 brasileiras.
Filha de imigrantes judeus russos, Clara nasceu em Maceió e cresceu em Recife, de onde partiu aos 20 anos rumo ao Rio de Janeiro em busca de trabalho. Mesmo diante de adversidades, como a morte precoce da mãe e a resistência do pai ao relacionamento com Marighella, Clara se manteve firme em seus ideais.
Reconhecida por sua generosidade e liderança, Clara foi premiada em 2014 na categoria Igualdade de Gênero durante a cerimônia dos Direitos Humanos. Até que o Alzheimer a limitasse fisicamente, manteve ativa sua contribuição às causas sociais. Hoje, vive com a irmã, Sara Grinspum, em São Paulo.
Para marcar seu centenário, a Associação Mulheres pela Paz busca publicar um livro com relatos sobre sua vida. Documentaristas como Sílvio Tendler e Isa Grinspum Ferraz defendem que a história de Clara seja eternizada também no cinema. A própria Isa, sobrinha da ativista, ressalta que o compromisso da tia com a transformação social permanece vivo.
Aos 100 anos, Clara Charf continua sendo símbolo de força, resistência e esperança por um Brasil mais justo.