Nos últimos dez anos, as agências de checagem se consolidaram como uma das principais ferramentas contra a desinformação no Brasil, impactando diretamente o jornalismo e a política nacional. Desde 2015, com a estreia da plataforma Aos Fatos e, meses depois, da Agência Lupa, o processo de verificação de informações tornou-se parte fundamental da rotina de apuração jornalística.
Outras iniciativas como UOL Confere (2017) e Estadão Verifica (2018) também passaram a integrar o cenário, todas reconhecidas pela Aliança Internacional de Checagem de Fatos (IFCN). Segundo as diretoras executivas Tai Nalon (Aos Fatos) e Natália Leal (Lupa), o trabalho desenvolvido pelas agências modificou a maneira como políticos lidam com suas declarações e influenciou uma nova postura no jornalismo profissional.
“Com a ascensão das redes sociais, políticos deixaram de depender dos grandes veículos para divulgar suas versões. Sem verificação, a desinformação ganhou força. A checagem surgiu como um contraponto necessário”, afirmou Nalon. Leal complementa: “Mudou o comportamento dos próprios políticos. Muitos passaram a pensar duas vezes antes de falar algo que pudesse ser desmentido publicamente”.
O impacto também alcançou as redações jornalísticas. Durante a pandemia, por exemplo, houve uma guinada na abordagem das matérias, com os veículos abandonando o formato meramente declaratório para adotar uma postura mais crítica e investigativa.
Dados recentes divulgados por Aos Fatos revelam que, ao longo da década, a plataforma realizou mais de 19 mil checagens — 15 mil focadas em declarações de figuras públicas e quase 4 mil destinadas a boatos em redes sociais. Temas políticos e eleitorais dominaram o cenário, seguidos pela área da saúde, especialmente durante a crise da covid-19.
Durante os 1.459 dias de governo Bolsonaro, foram checadas 1.610 declarações do ex-presidente, que continham 6.685 afirmações falsas ou distorcidas. Na média, a plataforma aponta que ele fez ao menos quatro declarações falsas por dia.
Apesar dos avanços, os desafios persistem. As plataformas digitais têm reduzido ferramentas de moderação e verificação, o que, segundo Nalon, enfraquece o combate à desinformação. “Inteligência artificial sozinha não basta. É preciso investir em jornalismo e moderação humana”, alerta.
As próprias agências também enfrentam ataques. “Grupos políticos, especialmente da extrema direita, espalham teorias conspiratórias contra nosso trabalho. Mas não se trata de censura. É jornalismo baseado na liberdade de expressão e no contraditório”, destaca a diretora da Lupa.
Para celebrar uma década de atuação, a Agência Lupa prepara atualizações em seu site e projetos inéditos, como o selo Lupa no Clima, que será utilizado na COP 30, em Belém, para combater o negacionismo ambiental.
“Enfrentamos uma crise de financiamento, como todo o jornalismo, mas estamos nos reinventando para continuar relevantes e alcançar novos públicos”, conclui Natália Leal.