Mensagens enviadas por integrantes do Comando Vermelho (CV) a trabalhadores do garimpo ilegal em Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, mostram a imposição de cadastros e cobranças mensais para quem atua com balsas e equipamentos de grande porte. O material, acessado pela reportagem, detalha regras e punições impostas pela facção.
Segundo os recados, atividades ilegais no estado são tratadas como prioridade pela organização, que estipula pagamentos entre os dias 1º e 8 de cada mês, variando conforme o maquinário utilizado.
As mensagens trazem ameaças diretas a quem descumprir as normas. Os criminosos afirmam que equipamentos poderão ser destruídos e que trabalhadores podem até perder a vida caso resistam às exigências impostas.
Um estudo apresentado na COP30 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela a expansão das facções na Amazônia Legal. A nova edição do Cartografias da Violência aponta que grupos criminosos já atuam em 45% dos municípios da região, alcançando 344 das 772 cidades — um aumento de 32% em relação ao ano anterior.
Segundo os pesquisadores, organizações majoritariamente ligadas ao narcotráfico têm encontrado na floresta e nos crimes ambientais oportunidades para ampliar lucros e lavar dinheiro. Especialistas alertam que políticas de segurança e proteção ambiental precisam ser integradas para enfrentar o cenário.
Facções em atuação
O levantamento identifica 17 facções operando na Amazônia, entre elas CV, PCC e grupos regionais como ADE, B40, PCM, FTA, UCA, CCA, B13, 777, Tropa do Castelar e GDE. Há ainda presença de organizações estrangeiras, como a venezuelana Tren de Aragua e o EMC, da Colômbia.
O CV domina 202 municípios e disputa espaço em outros 84, com forte influência nas rotas fluviais ligadas ao rio Solimões. O PCC atua diretamente em 90 cidades, focando na internacionalização das rotas e no uso de pistas clandestinas e corredores oceânicos.
Violência em alta
A Amazônia Legal registrou 8.047 mortes violentas intencionais em 2024, taxa de 27,3 por 100 mil habitantes — 31% acima da média nacional. O Amapá lidera o ranking, com 45,1 mortes por 100 mil habitantes.
O Maranhão foi o único estado da região a ter aumento nos homicídios, impulsionado por disputas entre Bonde dos 40, CV e PCC. No Mato Grosso, municípios como Vila Bela da Santíssima Trindade e Sorriso enfrentam alta na violência ligada a rota de drogas, garimpo ilegal e expansão territorial de facções.
A Pan-Amazônia tornou-se ponto estratégico para o tráfico internacional de cocaína, conectando a região a mercados da Europa, América do Norte, África e Oceania.
Violência contra mulheres
Em 2024, 586 mulheres foram assassinadas na Amazônia Legal, taxa de 4,1 por 100 mil — quase 22% acima da média nacional. Mato Grosso registra o índice mais alto, enquanto o Maranhão apresenta crescimento nos homicídios femininos.
Especialistas defendem políticas de proteção adaptadas às realidades locais, especialmente para mulheres que vivem em áreas remotas, em territórios indígenas ou em cidades de fronteira, onde há pouca presença do Estado.















