O G20 se prepara para divulgar um documento inédito sobre minerais críticos, reforçando a necessidade de que o beneficiamento desses recursos ocorra nos países onde são extraídos. A proposta, considerada um avanço para nações em desenvolvimento, foi detalhada pelo secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Philip Fox-Drummond Gough.
Em coletiva realizada em Brasília, o Ministério das Relações Exteriores apresentou a agenda da Cúpula de Líderes do G20, que acontece neste sábado e domingo em Joanesburgo, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O embaixador Gough, que integra as negociações na África do Sul, destacou que o tema dos minerais críticos figura como prioridade da presidência sul-africana.
Segundo ele, o documento em elaboração estabelece princípios para a extração e o processamento desses recursos, com foco no agregado de valor nos países produtores. Os minerais críticos são essenciais para setores como tecnologia, defesa e transição energética, incluindo elementos como lítio, cobalto, níquel e terras raras, indispensáveis à produção de baterias, turbinas eólicas, painéis solares e semicondutores.
O Brasil possui cerca de 10% das reservas globais desses minerais, segundo estimativas do Instituto Brasileiro da Mineração. Estudos recentes indicam que a corrida por recursos estratégicos já provoca tensões em novas áreas exploratórias e acelera impactos ligados à crise climática.
Declaração de líderes
O encontro do G20, criado em 1999, reúne hoje chefes de Estado e de governo. A cúpula contará com três sessões e deve resultar na tradicional declaração de líderes, embora alguns países defendam apenas uma carta devido à ausência dos Estados Unidos. A África do Sul insiste na manutenção da declaração, posição apoiada pelo Brasil.
Entre os temas em negociação está a taxação dos super-ricos, defendida pela presidência brasileira no ano anterior. A discussão será retomada em um evento paralelo sobre desigualdades. Gough afirmou que o bloco busca evitar a ampliação excessiva de debates políticos para não comprometer o consenso econômico. A proposta é simplificar questões sensíveis, concentrando-se em princípios e direitos internacionais.
Além da declaração principal, está prevista uma publicação específica sobre finanças, abordando sustentabilidade da dívida e estímulo a investimentos.
Agenda
Lula desembarca em Joanesburgo na sexta-feira para encontros bilaterais, inclusive com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa. O domingo inclui reunião do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas), iniciativa de cooperação do Sul Global criada em 2003. Após o G20, o presidente segue para Maputo, em Moçambique, para visita de trabalho.
Moçambique
O secretário de África e Oriente Médio do Itamaraty, Carlos Sérgio Sobral Duarte, lembrou que a retomada das relações com países africanos é prioridade desde 2023. Nos últimos anos, Lula ampliou o diálogo com diversos governos do continente e reforçou a cooperação em áreas como agricultura, saúde e educação.
Moçambique, principal beneficiário da cooperação brasileira na África, receberá novas discussões sobre projetos estruturantes e parcerias. Os dois países também trabalham para ampliar comércio e investimentos, com a realização de um fórum empresarial que reunirá até 200 participantes.
O comércio bilateral somou US$ 40,5 milhões em 2024, impulsionado por exportações brasileiras de carnes de aves, produtos de perfumaria e móveis. As importações são majoritariamente de tabaco.
Durante a estadia em Maputo, está prevista reunião de Lula com o presidente Daniel Chapo, quando deve ser firmado um acordo entre academias diplomáticas. O presidente também participará do encerramento do fórum empresarial e receberá o título de doutor honoris causa da Universidade Pedagógica de Maputo.


















