A família da terapeuta capilar Gleici Oliboni, assassinada a facadas em junho deste ano, em Lucas do Rio Verde, contesta o laudo psiquiátrico que declarou inimputável o engenheiro agrônomo Daniel Frasson, autor confesso do crime. O documento, apresentado à Justiça, concluiu pela insanidade mental do investigado e afirmou que, no momento dos fatos, ele não teria plena capacidade de compreender o caráter ilícito de suas ações. A defesa da vítima considera o resultado inadequado, insuficiente e “parcial”.
Em termos legais, uma pessoa inimputável é aquela que, por transtorno mental ou desenvolvimento mental incompleto, não possui discernimento para entender o que faz no instante da ação. Assim, ela não pode responder criminalmente nos mesmos moldes que um réu imputável. A avaliação, porém, foi imediatamente questionada pelo advogado da família, Rodrigo Pouso Miranda, que solicitou a realização de uma nova perícia, desta vez conduzida por um profissional indicado pela acusação. Ele aguarda a análise dos embargos de declaração, por meio dos quais pede que o juízo esclareça a ausência de um diagnóstico nosológico definitivo, a não comprovação de surto no momento exato do crime e a necessidade de uma perícia colegiada, conforme prevê o artigo 182 do Código de Processo Penal.
A reação da família se intensificou após uma manifestação pública da filha mais velha de Gleici, que assumiu a guarda da irmã de 7 anos. Em suas redes sociais, ela relatou que a criança está submetida a acompanhamento psicológico, psiquiátrico, neurológico e cardiológico, consequência direta do trauma e das sequelas físicas e emocionais deixadas pelo ataque. A pequena passou 22 dias na UTI, precisou reaprender a andar e a se alimentar, e ainda enfrenta limitações motoras, medos recorrentes e crises associadas ao luto e à violência sofrida.
O desabafo da filha mais velha questiona diretamente a conclusão do laudo. Para ela, é inexplicável que alguém formado, empregado, com histórico profissional regular, carteira assinada, passaporte, CNPJ e vida social ativa seja, de repente, declarado mentalmente incapaz. Ela relata que o acusado sempre demonstrou lucidez em atividades cotidianas: organizava planilhas de controle financeiro, conduzia discussões, dirigia, planejava eventos sociais, fazia cobranças e adotava comportamentos calculados em relação à vítima. “Maldade, crueldade, egoísmo e inveja não são doenças. São escolhas”, escreveu.
Ela também contesta o argumento de que o crime teria ocorrido durante um surto psicótico. Segundo o relato, após esfaquear Gleici — primeiro enquanto ela dormia ao lado da filha e, depois, com novos golpes já sem reação — o acusado teria abraçado a criança, pedido desculpas, enviado mensagens ao irmão e realizado ligações. Para a família, tais ações demonstram consciência, controle e intenção, e não incapacidade momentânea. “Silêncio em depoimento não é surto. É autodefesa”, disse.
O impacto do crime desestruturou completamente a vida das duas irmãs. Além do trauma emocional e físico da mais nova, a filha mais velha relata ter perdido emprego, casa e estabilidade, ao mesmo tempo em que assumiu responsabilidades integrais pela irmã. Apesar disso, a jovem afirma manter a fé e a esperança na Justiça, reiterando que o mínimo que ambas esperam é que o assassino responda pelo que fez. “O que minha mãe merece é justiça. O que minha irmã merece é segurança e a certeza de que ela e nossa mãe não serão apenas mais um número em uma estatística”, escreveu.
A família aguarda a análise judicial sobre os pedidos de esclarecimento e a possível realização de uma nova perícia. O caso segue em trâmite, marcado pela disputa técnica em torno da responsabilização criminal e pela luta emocional das sobreviventes para reconstruir suas vidas.


















