Devolução de crianças adotadas inspira documentário que debate adoções interrompidas

O documentário 'E se você não me quiser?' aborda o delicado tema da devolução de crianças adotadas e os impactos emocionais dessas histórias no Brasil.

Fonte: CenárioMT

Devolução de crianças adotadas inspira documentário que debate adoções interrompidas
Foto: E se você não me quiser/Divulgação

A devolução de crianças adotadas é o foco do documentário E se você não me quiser?, atualmente em produção. A obra discute as dificuldades enfrentadas em casos de adoções interrompidas e o desafio de uma nova tentativa de adoção. As filmagens começaram em outubro, no Rio de Janeiro e em Curitiba, com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2026.

Idealizado em 2011 pelo produtor Eliton Oliveira, o projeto nasceu após a leitura de uma reportagem sobre devoluções de crianças adotadas. Desde então, o tema foi amplamente pesquisado com o apoio de especialistas, como médicos, psicólogos e conselheiros tutelares, resultando nas histórias que compõem o filme.

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Entre as narrativas, está a de Bruno, que viveu nas ruas com a mãe antes de ser levado a um abrigo. Após ser adotado e devolvido, conseguiu uma nova chance com outro casal. Já Pedro, adotado por duas mulheres, enfrentou dificuldades por idealizar uma figura paterna ausente, o que levou à sua devolução.

A diretora Ana Azevedo destaca que o processo de adoção costuma ser retratado apenas pelo lado positivo, ignorando os desafios. “Quando a família não está preparada, ocorrem casos de devolução. Nosso objetivo é provocar o debate e conscientizar sobre a responsabilidade que envolve essa decisão”, afirma.

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Segundo Ana, a falta de preparo emocional dos adotantes pode causar traumas profundos nas crianças. “Elas carregam uma bagagem enorme. Quando são devolvidas, os danos psicológicos se intensificam”, alerta a cineasta.

De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 9% das adoções no Brasil são desfeitas. Desde 2019, o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento registrou 24.673 adoções, das quais 2.198 resultaram em devoluções.

Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considere a adoção uma medida excepcional e irrevogável, os juizados de infância podem autorizar a devolução para proteger crianças de situações de abuso ou negligência. Um estudo do CNJ e da Associação Brasileira de Jurimetria aponta que diagnósticos psiquiátricos e dificuldades de adaptação são fatores recorrentes nesses casos.

O levantamento também revela os impactos emocionais das devoluções: sentimentos de culpa, tristeza, agressividade e o desenvolvimento de transtornos psicológicos como depressão e estresse pós-traumático. O documentário busca, justamente, dar visibilidade a essas histórias e estimular uma reflexão sobre a importância da preparação e do acompanhamento no processo de adoção.

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Graduado em Jornalismo pelo Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo): Base sólida em teoria e prática jornalística, com foco em ética, rigor e apuração aprofundada.