A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro reafirmou, no segundo dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), que não existem evidências concretas que o conectem à tentativa de golpe de 8 de janeiro. Segundo o advogado Celso Vilardi, Bolsonaro foi injustamente envolvido nos fatos investigados pela Polícia Federal e não atentou contra o Estado Democrático de Direito.
Vilardi apontou que o processo se baseia principalmente em uma delação e em uma minuta encontrada no celular de um colaborador da Justiça, considerada o núcleo do caso. “Daí em diante, tudo que ocorreu na investigação e na denúncia do Ministério Público é uma sequência inacreditável de fatos”, afirmou.
O advogado destacou que documentos como a minuta do Punhal Verde e Amarelo e planilhas da Operação Luneta não provam qualquer ligação de Bolsonaro com os eventos do dia 8 de janeiro. Ele reforçou que nem mesmo o delator afirmou a participação direta do ex-presidente nos episódios investigados.
“Não há uma única prova que atrele o presidente ao Punhal Verde e Amarelo, à Operação Luneta e ao 8 de janeiro. Nem o delator disse isso. Não existe prova alguma”, disse Vilardi.
O advogado também questionou a credibilidade do delator Mauro Cid, ressaltando mudanças em seus depoimentos como motivo para anulação da colaboração premiada.
A Primeira Turma do STF iniciou o julgamento de Bolsonaro e sete aliados, que fazem parte do núcleo central da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Denúncia
Em fevereiro, a PGR denunciou o ex-presidente e mais 33 pessoas ao STF pelos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. O procurador-geral, Paulo Gonet, afirmou que Bolsonaro e o general Braga Netto tiveram papel de liderança na execução de uma trama contra instituições democráticas.
Durante o julgamento, Gonet apresentou testemunhos, registros e documentos que, segundo ele, comprovam a tentativa de golpe liderada por Bolsonaro. Destacou reuniões, ameaças e discursos coordenados para mobilizar a militância, incluindo o vídeo da reunião ministerial de 5 de julho de 2021 e o discurso de 7 de setembro do mesmo ano, quando Bolsonaro teria ameaçado ministros do STF e do TSE.
“As palavras proferidas na celebração da Independência não podem ser vistas como arroubos isolados, mas revelam um projeto autoritário”, enfatizou o procurador.