O luto das famílias das vítimas de chacinas no Brasil é agravado pela demora do Judiciário em processos de indenização e responsabilização. Na Chacina de Osasco, Itapevi e Barueri, que tirou a vida de 19 pessoas há dez anos, muitos parentes seguem sem reparação financeira, como Zilda Maria de Jesus, mãe de Fernando Luiz de Paula, morto em um bar de Barueri. Além da perda, ela enfrentou acusações durante o julgamento criminal, exemplificando o desgaste vivido por diversas mães.
Segundo Carla Osmo, professora da Unifesp e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos em Osasco, essas famílias sofrem múltiplas violências, incluindo empobrecimento, adoecimento e estigmatização por terem um parente morto por policial. A instituição acompanha 16 processos civis ligados ao caso, sendo que apenas dois chegaram à fase de execução sem pagamento das indenizações. A média de tramitação é de seis a sete anos, e o Estado contesta as decisões, atrasando ainda mais a reparação.
Para Carla, a lentidão judicial transmite a ideia de desvalorização da vida e perpetua a dor, pois o sofrimento permanece tão intenso quanto no momento da perda. Ela defende que falar sobre a chacina é essencial para combater o apagamento histórico e prevenir novas violências de Estado. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que o inquérito concluiu com oito indiciados, incluindo sete policiais militares expulsos da corporação, mas não detalhou o andamento das indenizações.