O Grupo Nós do Morro leva ao Vidigal, zona sul do Rio, neste fim de semana, a leitura dramatizada de ‘Ópera do Malandro’, de Chico Buarque, com direção de Paulo Guidelly. As apresentações ocorrem no Casarão do Nós do Morro, sábado (9) e domingo (10), às 10h, com entrada gratuita — os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência.
A mostra integra uma iniciativa da escola de teatro do grupo, que já apresentou obras como O Pequeno Príncipe Preto, de Rodrigo França, A Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, e Hoje é Dia de Rock, de João Vicente. Todas as encenações são conduzidas por professores formados no próprio projeto.
Segundo Paulo Guidelly, a proposta da mostra é aprofundar o contato dos alunos com obras clássicas, muitas vezes desconhecidas por jovens aspirantes à atuação. “Percebemos uma defasagem nesse conhecimento e decidimos incluir autores brasileiros e clássicos como parte da formação”, afirmou.
A leitura dramatizada, explicou o diretor, representa o primeiro ciclo da montagem das peças, que terão encenação completa em novembro. Mesmo nesta etapa, os atores já utilizam cenários, movimentação no palco e iluminação.
Guidelly, que iniciou sua trajetória no grupo em 2013 como aluno, hoje é multiplicador e destaca o impacto social do projeto. “É a minha contrapartida social. O Nós do Morro foi essencial na minha vida, inclusive para minha formação na Unirio”.
O grupo atua desde 1996 como uma associação cultural sem fins lucrativos, e já revelou talentos como Babu Santana, Thiago Martins e Sheron Menezzes. Para Guidelly, o projeto inspira sonhos e representa uma via real de transformação de vida para jovens da comunidade.
Guti Fraga, um dos fundadores, lembra que o grupo surgiu da necessidade de representar o cotidiano do Vidigal nos palcos. “A primeira peça falava da comunidade. As pessoas se identificavam e isso foi transformador.”
Além de atuar no Brasil, o grupo já se apresentou internacionalmente. A atual gestora da Mostra, Tatiana Delfina, começou como aluna aos 15 anos e participou da montagem com a Royal Shakespeare Company, na Inglaterra.
O projeto é financiado por emendas parlamentares e editais. A atual mostra foi viabilizada pelo projeto ‘Arte que educa e transforma’, via Funarte e emenda do deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
Marcello Melo, diretor executivo e ex-aluno, destaca que manter o acesso gratuito é um princípio do grupo. “Não cobramos por aulas nem pelos espetáculos. Tudo depende de editais e parcerias.”
Durante a pandemia, a escola enfrentou dificuldades financeiras, mas conseguiu se manter ativa graças ao apoio de colaboradores. Hoje, zerou dívidas e celebra quase 40 anos de existência.
Parcerias recentes, como com a Disney, permitiram oficinas práticas em áreas como maquiagem, roteiro e direção de arte, gerando oportunidades reais no mercado para ex-alunos.
Atualmente, o Nós do Morro mantém cinco turmas, incluindo uma com alunos neurotípicos. “Eles estavam invisíveis na comunidade. É gratificante vê-los integrados e ativos”, disse Melo.