Historiador Ilan Pappe afirma que Israel comete genocídio na Palestina

Durante evento na USP, Ilan Pappe defendeu o uso de termos como genocídio e apartheid para descrever ações de Israel em Gaza.

Fonte: CenárioMT

Paraty (RJ), 01/08/2025 - O Historiador israelense Ilan Pappé participa da mesa Breve história do longo conflito na 23ª Festa Literária Internacional de Paraty - Flip. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasi
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O historiador israelense Ilan Pappe classificou as ações de Israel na Faixa de Gaza como genocídio, colonização, limpeza étnica e apartheid. A declaração foi feita nesta quarta-feira (6), durante o evento Da Limpeza Étnica ao Genocídio na Palestina, promovido pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Pappe, professor na Universidade de Exeter, no Reino Unido, defendeu o uso de uma linguagem precisa para descrever os acontecimentos, não apenas desde outubro de 2023, mas ao longo dos últimos 140 anos. Segundo ele, a forma como o conflito é narrado por mídias, instituições e universidades favorece uma visão que beneficia o projeto sionista e invisibiliza a violência contra os palestinos.

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“Chamar os atos praticados pelo Estado de Israel desde outubro de 2023 como genocídio é uma contribuição importante para que a gente enderece o assunto, usando a linguagem correta”, afirmou.

Pappe também criticou a maneira como o tema é tratado academicamente, especialmente em instituições do Norte Global. Para ele, há uma omissão deliberada ao não se reconhecer o sionismo como um projeto de colonização, enquanto movimentos palestinos de resistência são frequentemente ignorados ou deslegitimados.

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“Quase não há universidade no Norte Global que ensine sionismo como um projeto de colonização e as resistências como um movimento anticolonial”, disse. O historiador ainda relacionou a fundação de Israel à tentativa europeia de solucionar o antissemitismo, impondo esse custo à população árabe e palestina.

Durante sua fala, destacou que a limpeza étnica deve ser compreendida não apenas como uma política, mas como uma ideologia, enraizada no sionismo. Para ele, entender essa conexão é essencial para impedir novas violações contra os palestinos.

Pappe também apontou que a linguagem empregada historicamente sobre o projeto sionista distorce a realidade. Segundo ele, os palestinos foram retratados como nômades para justificar sua remoção, em vez de reconhecê-los como vítimas de um processo sistemático de colonização.

O historiador lamentou que acadêmicos que tentam abordar o tema de forma crítica são frequentemente intimidados e acusados de apoiar o terrorismo. Ainda assim, destacou a importância de espaços acadêmicos, como o da USP, que abrem espaço para discussões mais honestas e fundamentadas sobre o tema.

“Me dá muita esperança e encorajamento que, em uma universidade de São Paulo, nós podemos usar a linguagem correta para nos referir à Palestina”, concluiu.

Além de Pappe, o evento contou com a presença de nomes como Arlene Clemesha (diretora do CEPal-FFLCH/USP), Francisco Rezek (ex-ministro do STF), Paulo Casella (membro do Fórum Permanente sobre Genocídios e Crimes contra a Humanidade da USP), Paulo Sérgio Pinheiro (ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos), Soraya Misleh (Frente Palestina São Paulo), Júlia Wong (Centro Acadêmico XI de Agosto) e Maira Pinheiro (advogada). Todos reforçaram as denúncias de colonização, apartheid e genocídio em curso contra o povo palestino.

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Graduado em Jornalismo pelo Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo): Base sólida em teoria e prática jornalística, com foco em ética, rigor e apuração aprofundada.