Uma escola estadual em Salvador tem se destacado por seu modelo de ensino integral, que alia estrutura moderna, apoio emocional e atividades extracurriculares ao currículo tradicional. A proposta da unidade, inaugurada há três anos, é oferecer aos alunos mais do que aprendizado formal, priorizando também o bem-estar e o desenvolvimento pessoal.
O Colégio Estadual Pedro Paulo Marques e Marques foi o primeiro da Bahia a adotar a nova política de tempo integral. O projeto conta com quadras esportivas, piscina, sala de fisioterapia, laboratório, música, e espaços voltados a estudantes neurodivergentes, além de uma sala de acolhimento com atendimento psicológico.
“Aqui os alunos têm voz, são protagonistas”, afirma a diretora Liliane Fonseca. Durante visita de jornalistas, foram os próprios estudantes que apresentaram as instalações, evidenciando o envolvimento com as atividades escolares.
A estudante Livy Vitória, de 16 anos, participa da agência de notícias da escola e já vislumbra uma carreira na área de comunicação. “É uma vivência na área que quero seguir”, disse, mencionando seus planos para o Enem e a universidade.
Segundo Manoel Calazans, assessor da Secretaria de Educação da Bahia, o modelo busca alinhar carga horária estendida a atividades que façam sentido para cada realidade local. “Não é só carga horária. É entender o que atrai os jovens e respeitar as singularidades regionais”, afirmou.
O programa federal Escola em Tempo Integral já alcança 7.153 escolas e 1,3 milhão de alunos no país. Na Bahia, 20,9% das matrículas são nessa modalidade, um total de 135 mil estudantes. Em compensação, mais da metade das escolas baianas já oferece o modelo.
Para a professora Ana Pompilho, o impacto de programas de apoio como Bolsa Família e Pé-de-Meia é evidente na permanência dos alunos. Ela nota maior engajamento das famílias e interesse pelo Enem.
O Instituto Natura, parceiro técnico do governo baiano, auxilia na gestão e no uso dos recursos públicos para o ensino integral. A gerente de Ensino Médio da instituição, Iara Viana, aponta que muitas escolas precisam de apoio especializado na administração. “Nosso papel é garantir que a política pública avance de forma eficiente”, explicou.
Na prática, mais tempo na escola também permite diagnóstico mais preciso das dificuldades de aprendizagem. O Ideb da Bahia, que está em 3,7, ainda abaixo da média nacional de 4,1, mostra que há desafios a superar.
Estudos do Instituto Natura revelam que o ensino integral tem impacto social e econômico significativo. A cada 10% de aumento nas matrículas, há crescimento de até 3% nos empregos formais, sendo o efeito três vezes maior entre estudantes pretos, pardos e indígenas. Outros dados apontam redução da gravidez na adolescência e maior inserção feminina no ensino superior e no mercado de trabalho.
*A repórter viajou a convite do Instituto Natura.