O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, defendeu que a redução da desigualdade no Brasil e na América Latina depende do enfrentamento da gravidez na adolescência. Segundo ele, o tema deve estar no centro das discussões políticas e também ser levado às escolas e aos espaços religiosos.
Durante evento do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em Brasília, Padilha afirmou que não é possível tratar o assunto sem diálogo com lideranças religiosas que atuam diretamente nas comunidades. “Não tem como enfrentar a gravidez na adolescência no Brasil se a gente não conseguir entrar nas igrejas que estão nos nossos territórios”, disse o ministro.
Ele ressaltou que as igrejas são espaços de convivência e acolhimento das populações mais vulneráveis e que o tema também precisa ser amplamente discutido nas escolas. Padilha lembrou que o Ministério da Saúde está reorganizando a atenção primária para aproximar os profissionais das realidades locais, medida que foi afetada pela pandemia de covid-19.
O encontro Futuro Sustentável – Prevenção da Gravidez na Adolescência na América Latina e Caribe reuniu governos e especialistas para fortalecer políticas públicas voltadas à redução de casos na região. A América Latina e o Caribe têm a segunda maior taxa de fecundidade adolescente do mundo, atrás apenas da África Subsaariana. A cada 20 segundos, uma adolescente se torna mãe — cerca de 1,6 milhão de nascimentos anuais.
A UNFPA destaca que a gravidez na adolescência está ligada à pobreza, evasão escolar e desigualdade de gênero. No Brasil, 12% dos nascidos vivos têm mães adolescentes. Padilha reforçou que esses casos geralmente estão associados à falta de acesso à informação, a métodos contraceptivos e à proteção contra a violência.
O ministro afirmou que o Brasil levará o tema à próxima reunião dos ministros da Saúde do Mercosul, durante a presidência brasileira do bloco. Ele também defendeu a criação de espaços seguros de escuta e atendimento para adolescentes, mencionando iniciativas como a caderneta digital e o fornecimento do implante contraceptivo Implanon pelo SUS.
Em projeto piloto, o ministério identificou o Implanon como a tecnologia mais adequada para adolescentes. A pasta trabalha para ampliar o acesso, permitindo que enfermeiros realizem o procedimento na atenção primária. Padilha ainda sugeriu a criação de programas regionais de transferência de tecnologia para tornar os métodos contraceptivos mais acessíveis na América Latina.
“Quando a região se une e encontra o que tem em comum, conseguimos construir políticas públicas mais fortes e capazes de transformar realidades com rapidez”, concluiu o ministro.