O Brasil é o líder em desinformação sobre vacinas na América Latina, segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira (17), no Dia Nacional da Vacinação. O levantamento, realizado pelo Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DesinfoPop/FGV), apontou que o país concentra 40% do conteúdo falso sobre imunização disseminado em comunidades do Telegram.
O estudo, intitulado Desinformação Antivacina na América Latina e no Caribe, analisou 81 milhões de mensagens publicadas entre 2016 e 2025 em 1.785 grupos de teorias conspiratórias em 18 países da região. Foram identificadas 175 alegações falsas sobre supostos danos causados por vacinas e 89 falsos antídotos oferecidos como alternativas para neutralizar efeitos inexistentes.
De acordo com os dados, o Brasil lidera o volume de mensagens e de usuários ativos nesses grupos, totalizando mais de 580 mil publicações com conteúdo enganoso. Em seguida aparecem Colômbia (125,8 mil), Peru (113 mil) e Chile (100 mil).
O coordenador do estudo, Ergon Cugler, explicou que o cenário brasileiro é agravado pela falta de regulação das plataformas digitais e pela polarização social. “Temos um ambiente digital ainda pouco regulado, com plataformas que lucram com o engajamento por meio do medo. Essa combinação cria um terreno fértil para o discurso conspiratório”, afirmou.
Falsas alegações e riscos à saúde
Entre as desinformações mais comuns estão as de que vacinas provocam morte súbita (15,7%), alteram o DNA (8,2%) ou causam doenças como Aids (4,3%), envenenamento (4,1%) e câncer (2,9%). Também circularam boatos sobre falsos “antídotos”, como andar descalço para limpar energias do corpo ou ingerir dióxido de cloro — substância tóxica e sem eficácia médica.
O Ministério da Saúde reforça que essas informações são falsas e perigosas. O dióxido de cloro, conhecido também como MMS ou Solução Mineral Milagrosa, é classificado pela Anvisa como produto saneante, destinado apenas à higienização. Seu consumo pode causar graves danos à saúde e até levar à morte.
Para Cugler, a desinformação virou um mercado lucrativo. “Esses grupos espalham medo e, em seguida, vendem cursos e terapias como falsas curas. O pânico é transformado em lucro”, disse o pesquisador.
Pico de desinformação na pandemia
Durante a pandemia de covid-19, o volume de mensagens falsas sobre vacinas aumentou de forma expressiva. As publicações em grupos conspiratórios cresceram quase 690 vezes entre 2019 e 2021, passando de 794 para 547 mil postagens. Embora o número tenha diminuído após o pico, o estudo aponta que em 2025 ainda há 122 vezes mais conteúdos antivacina do que antes da pandemia, somando cerca de 97 mil mensagens.
Cugler alerta que esse tipo de conteúdo coloca em risco políticas públicas de saúde e pode facilitar o retorno de doenças já controladas. “Desinformação é um projeto que mina a confiança na ciência e ameaça a vida das pessoas”, destacou.
Campanha contra fake news
O Ministério da Saúde reconhece que as fake news têm impacto direto na adesão da população às campanhas de imunização. Para enfrentar o problema, criou o programa Saúde com Ciência, que oferece informações verificadas sobre vacinas e orientações para identificar conteúdos enganosos.
A pasta recomenda que o público busque sempre fontes oficiais e evite compartilhar informações não verificadas. “Vacina é uma conquista coletiva, não um risco individual”, reforçou Cugler.
