Em Soure, na Ilha de Marajó (PA), a costureira Maria da Cruz, de 77 anos, transforma o simples em arte. De sua casa modesta, ela confecciona trajes de gala marajoara que unem história e elegância. Cada camisa de algodão leva de um a três dias para ser produzida, com bordados inspirados em grafismos indígenas tradicionais.
O trabalho ganhou notoriedade após o governador Helder Barbalho vestir uma de suas peças na Cúpula da Amazônia de 2023. Desde então, a procura pelos trajes aumentou, com encomendas enviadas para várias regiões do país.
Apesar do reconhecimento, os lucros ainda são modestos. “O que ganho, reinvisto em materiais. Trabalho por conta própria e uso a aposentadoria para as despesas da casa”, conta Dona Cruz, que recebe apoio do Sebrae por meio do programa Polo de Moda do Marajó. O projeto oferece capacitação em precificação, vendas e acesso a novos mercados.
Agora, ela compartilha o aprendizado ministrando cursos de camisaria, perpetuando uma técnica de bordado quase extinta após a morte de seu antigo professor durante a pandemia.
Tradição e sustentabilidade
Em Salvaterra, a quilombola Rosilda Angelim, de 56 anos, encontrou na arte marajoara um novo propósito. Após perder o emprego e enfrentar a depressão, ela redescobriu na costura um caminho para a autonomia. “Há 16 anos me encontrei no grafismo marajoara. Meu objetivo é mostrar ao mundo a cultura do Marajó”, afirma.
Rosilda lidera um ateliê com seis pessoas, produzindo roupas e acessórios que unem identidade amazônica e sustentabilidade. Os tecidos são 100% algodão e as sobras são doadas a mulheres que produzem artesanato. “Nada fica parado. Isso ajuda o meio ambiente e as famílias locais”, explica.
Com a aproximação da COP30, em Belém, ela prepara uma coleção especial, acreditando que o evento pode impulsionar o artesanato e a cultura regional.
Empreendedorismo feminino
Também na ilha, Glauciane Pinheiro, de 40 anos, encontrou na costura uma nova profissão. Professora de francês, ela iniciou o aprendizado sem experiência prévia e acabou criando a marca Mang Marajó, com estampas autorais e bordados feitos em parceria com famílias locais.
“Comecei para me distrair, mas me apaixonei pela costura”, relembra. Hoje, o turismo tem sido um motor para o crescimento. “Desde os preparativos da COP30, há mais turistas e encomendas. Quero viver da cultura e da arte”, diz.
De acordo com o Sebrae, o fortalecimento dessas iniciativas passa por mais investimentos em capacitação, acesso a crédito e parcerias institucionais. O Polo de Moda do Marajó tem sido um exemplo de inclusão produtiva, autonomia econômica e valorização cultural.
As histórias de Maria, Rosilda e Glauciane mostram como a moda marajoara tem se tornado símbolo de resistência, empreendedorismo e identidade amazônica, inspirando outras mulheres a costurarem seu próprio futuro.