Memória indígena como chave para recuperação ambiental de áreas degradadas

A pesquisadora Bárbara Borum-Kren investiga como a cultura e a memória dos povos indígenas podem ser decisivas para restaurar territórios impactados pela degradação ambiental.

Fonte: CenárioMT

Arizona, 09/09/2025 - Pesquisa defende que memória indígena pode recuperar áreas degradadas. A pesquisadora Bárbara Flores Borum-Kren, do Movimento Plurinacional Wayrakuna, durante visita de campo a u
Foto: Bárbara Flores Borum-Kren/Arquivo Pessoal

De acordo com uma antiga profecia indígena americana, o encontro simbólico entre a águia do norte e o condor do sul representa a união dos povos originários de Abya Yala, nome tradicional para o continente americano. É nesse contexto que a pesquisadora Bárbara Flores Borum-Kren desenvolve seu trabalho, defendendo a reocupação de áreas degradadas por seus povos originários como estratégia para promover a recuperação ambiental e fortalecer práticas culturais.

Atualmente em pós-doutorado na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, Bárbara estuda territórios indígenas dos povos Ute, Walatowa, Navajo, Lakota, Odibwe e Yurok, distribuídos em cinco estados norte-americanos. Seu foco está na troca de saberes entre comunidades indígenas que enfrentam processos de restauração da memória biocultural e no movimento land back, que busca o reconhecimento legal das terras indígenas.

“Busco colaborar com os povos indígenas para entender como a retomada da terra pode gerar benefícios socioambientais e fortalecer identidades culturais”, afirma Bárbara.

O trabalho é apoiado pelo Programa Beatriz Nascimento para Mulheres na Ciência do CNPq e pelo Instituto Serrapilheira. A pesquisadora baseia seu estudo em dois conceitos-chave: memória biocultural, que relaciona as conexões ancestrais entre povos e territórios, e cascatas socioecológicas, processos em cadeia que promovem recuperação ambiental e cultural.

Segundo Bárbara, intervenções em terras degradadas devem considerar essas memórias, identificando plantas e animais culturalmente importantes para orientar a restauração. Nos Estados Unidos, projetos colaborativos entre povos indígenas e governos locais já exemplificam essa prática, especialmente em estados como Colorado e Califórnia.

“Essas iniciativas mostram que a gestão conjunta fortalece a recuperação ecológica e reconhece os direitos indígenas sobre seus territórios”, explica a pesquisadora.

Apesar das dificuldades trazidas por políticas que reduzem financiamento para pesquisas indígenas e ambientais, o trabalho de Bárbara segue em desenvolvimento, com restrições impostas pela universidade quanto a viagens internacionais.

Desde a graduação, seu objetivo é aplicar o conhecimento adquirido na restauração do território Borum-Kren, em Ouro Preto (MG), região ancestral do seu povo, descendente dos Botocudos, que sofreram perseguições e violações durante a colonização.

Bárbara destaca que a retomada das terras e a preservação cultural são processos interligados. Ela relata ainda as violências históricas sofridas por sua comunidade, como o sequestro e trabalho escravo de indígenas, e a necessidade do reconhecimento legal para garantir ações efetivas de recuperação.

“O reconhecimento das terras assegura o usufruto por seus povos, permitindo desenvolver projetos que beneficiam o meio ambiente e fortalecem a cultura indígena”, enfatiza.

Integrante do Movimento Plurinacional Wayrakuna, o primeiro grupo de pesquisa brasileiro formado por mulheres indígenas, Bárbara e outros jovens Borum-Kren buscam reverter um passado marcado por sofrimento, promovendo a resistência e a revitalização cultural.

“Nossa geração deseja transformar destinos de morte em histórias de ressurgência e esperança”, conclui Bárbara.