O Itaú Cultural lançou em São Paulo o Dossiê Acessibilidade, uma iniciativa voltada à ampliação da participação de pessoas com deficiência nas atividades artísticas. O material reúne dados legais e estatísticos e oferece orientações práticas a profissionais da cultura sobre como adaptar espaços e produções para garantir o direito à fruição artística.
Durante o evento de lançamento, especialistas destacaram que a autonomia é um dos pilares fundamentais dos direitos das pessoas com deficiência. No entanto, muitos dos mais de 18 milhões de brasileiros com deficiência ainda enfrentam barreiras para acessar arte e cultura, seja em exposições, espetáculos ou museus.
O consultor de acessibilidade e produtor cultural Claudio Rubino criticou práticas superficiais de inclusão, como a instalação de rampas ou o uso isolado de intérpretes de Libras. Segundo ele, a acessibilidade deve considerar as múltiplas necessidades do público. A pesquisadora Mariana Oliveira Arantes reforçou a ideia, lembrando que acessibilidade não é apenas técnica, mas também estética, e que cresce o número de artistas ligados à chamada cultura def.
O dossiê explica que o termo cultura def busca valorizar as experiências e corpos diversos das pessoas com deficiência, reconhecendo-as como parte essencial do cenário cultural. Rubino destacou que o conceito de “inclusão” pode ser limitante, pois pressupõe uma hierarquia entre quem inclui e quem é incluído, o que a cultura def procura desconstruir.
Arantes observou que muitos equipamentos culturais ainda precisam aprimorar sua linguagem e práticas. Termos ultrapassados como “alunos especiais” ainda são usados, o que revela a necessidade de atualização no vocabulário e nas abordagens. Ela também criticou iniciativas apressadas de acessibilidade em projetos culturais, que tratam o tema apenas como requisito de editais.
Durante o 1º Congresso Internacional sobre Deficiência da USP, Arantes destacou que a falta de engajamento de pessoas sem deficiência é uma das principais causas do fracasso de projetos inclusivos. Segundo ela, muitos planos são abandonados ainda na fase de protótipo por desinteresse ou falta de continuidade.
“Acessibilidade depende muito mais de mudança de comportamento do que de verba ou estrutura”, afirmou a educadora.
A especialista em editoração Divina Prado, do Instituto Tomie Ohtake, lembrou projetos desenvolvidos com Rubino há uma década, como o Bolsa de Artista Tomie Ohtake, que buscou integrar crianças com e sem deficiência por meio de materiais educativos e experiências sensoriais. Prado destacou a importância de acompanhar as transformações tecnológicas — do CD ao QR Code — para manter a acessibilidade atualizada.
Entre as ações recentes do instituto, estão o Caderno-ensaio 3: Povo e o projeto Palavra, vencedor do Prêmio Jabuti 2025 na categoria Projeto Gráfico. Ambos investem em experiências sonoras e audiodescrições para tornar o conteúdo acessível a todos os públicos. “Trata-se de convidar cada pessoa a ler do seu jeito”, disse Prado.
O Dossiê Acessibilidade está disponível no site do Itaú Cultural e se propõe a ser uma ferramenta contínua de reflexão e transformação na forma como o país produz, consome e pensa a arte inclusiva.


















