A exposição Paiter Suruí, Gente de Verdade: um projeto do Coletivo Lakapoy apresenta mais de 900 fotografias que ocupam todas as paredes do IMS Paulista, em São Paulo, e pode ser visitada até 2 de novembro.
O projeto nasceu da iniciativa dos próprios Paiter Suruí, que vivem em aldeias de Mato Grosso e Rondônia, para preservar e apresentar sua cultura sem apropriações indevidas. As imagens datam da década de 1970, período em que tiveram seus primeiros contatos com a fotografia por meio de missionários.
Algumas fotos surpreendem por mostrar situações cotidianas similares às de não indígenas, como festas de aniversário com doces e refrigerantes, casamentos com ternos e vestidos brancos, e retratos posados com roupas de veludo ou cetim.
O fotógrafo Ubiratan Gamalodtaba Suruí, responsável por grande parte do acervo, afirma que todas as fotos têm importância igual, pois cada registro conta a história de alguém.
“Toda fotografia tem uma história e, se tirarmos uma da parede, apagamos a história daquela pessoa. Queremos narrar a partir do ponto de vista dos Paiter Suruí”, explica Ubiratan.
A mostra também apresenta fotos de lideranças indígenas em encontros com autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e imagens que se assemelham a selfies com óculos escuros. Algumas fotos antigas foram colorizadas pelos próprios indígenas, criando um arquivo vivo e em constante atualização.
“É o início de um projeto, não o acervo final. Visitamos cinco ou seis aldeias, mas queremos englobar todas as cerca de 40 aldeias para recontar nossa história”, afirma o fotógrafo.
Ubiratan Gamalodtaba é também coordenador de políticas públicas indígenas em Rondônia e começou sua trajetória fotográfica registrando atividades da associação de seu povo, desenvolvendo um trabalho que mistura arte, memória e resistência.
Em 2016, ele participou da produção do documentário Ex-pajé, dirigido por Luiz Bolognesi, que retrata o impacto da colonização sobre os pajés de sua aldeia.
Contexto
Para a curadora Lahayda Mamani Poma, pesquisadora e arquiteta indígena Aymara, a mostra desafia estereótipos sobre povos originários. Ela explica que gestos e rituais retratados nas fotos refletem costumes específicos, como o plantio do inhame entre esposas de um mesmo homem, mostrando aspectos afetivos e culturais.
O olhar do fotógrafo, muitas vezes à altura das crianças, reforça a intimidade e confiança nas imagens, transformando o acervo em uma narrativa dinâmica e participativa.
“O projeto percorreu aldeia por aldeia, garantindo que famílias confiantes compartilhassem suas fotos, digitalizadas e preservadas para a exposição”, acrescenta Lahayda.
A curadoria inclui também a líder e ativista Txai Suruí e o coordenador de Arte Contemporânea do IMS, Thyago Nogueira, sob supervisão do cacique-geral Almir Narayamoga Suruí.
A exposição está aberta de terça a domingo e feriados, das 10h às 20h, com entrada gratuita.