A Sala do Artista Popular, no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, no Rio de Janeiro, recebe até 28 de setembro a exposição Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas, reunindo peças artesanais criadas por mulheres da etnia Maxakali. Reconhecidos por manterem viva sua língua no estado de Minas Gerais, os Tikmũ’ũn – como se autodenominam – vivem em aldeias no Vale do Mucuri.
O artesanato exposto utiliza fibra de embaúba, árvore nativa da Mata Atlântica quase extinta localmente, para confeccionar bolsas, pulseiras e outros adornos típicos. A venda desses produtos garante renda para as comunidades, além de financiar projetos de reflorestamento com espécies nativas nos territórios Maxakali.
O antropólogo Roberto Romero, que há 15 anos pesquisa o povo Maxakali, destaca que mesmo próximos de grandes centros, eles permanecem pouco conhecidos e enfrentam barreiras linguísticas, já que são em sua maioria monolíngues. Ele também enfatiza que a mostra coincide com o projeto Hãmhi | Terra Viva, que desde 2023 forma agentes agroflorestais e já resultou em mais de 150 hectares reflorestados.
Após a abertura da exposição, foi exibido o documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, que narra a busca de Sueli e Maíza Maxakali pelo pai, Luis Kaiowá, separado da família durante a ditadura militar para trabalho forçado. Em debate, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, ressaltou que a obra evidencia a luta contínua por reparação histórica dos povos indígenas brasileiros.
Os Maxakali também pretendem, em agosto, solicitar ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o registro formal de seus ritos e cantos como patrimônio cultural imaterial. Para o diretor Rafael Barros, a iniciativa reforça a importância de preservar uma cultura singular, que sobreviveu ao isolamento como forma de proteger sua identidade.