Um levantamento divulgado no Fórum Brasil Diverso revelou que 85,3% da população negra brasileira confia mais nas empresas do que nos governantes, que registraram 68,7% de credibilidade. O estudo, intitulado O Consumo Invisível da Maioria, consultou mil pessoas negras em todas as regiões do país e apontou que a percepção de segurança e clareza de regras no ambiente corporativo influencia essa avaliação.
A pesquisa foi desenvolvida pelos institutos Akatu, DataRaça e Market Analysis, considerando o impacto econômico do grupo, que movimenta cerca de R$ 1,9 trilhão por ano. Os dados analisados tomaram como referência números recentes da Pnad Contínua, do IBGE.
Segundo o presidente do DataRaça, Maurício Pestana, a polarização política e a dificuldade de cumprimento de leis contribuem para o cenário de menor confiança no Estado. Para ele, enquanto empresas seguem protocolos claros contra discriminação, o poder público enfrenta desafios históricos na aplicação das normas.
Instituições mais confiáveis
Organizações não governamentais (31%) e instituições religiosas (30,7%) aparecem com os maiores índices de credibilidade, acompanhadas por baixos níveis de desconfiança. Já grandes empresas nacionais (17,1%) e multinacionais (16,1%) são vistas com cautela, embora ainda inspirem mais confiança do que governos, que registram 12,9% de alta confiança e 24% de desconfiança.
Pessoas entre 35 e 44 anos se mostraram as mais céticas em relação ao poder público, enquanto mulheres, jovens e idosos apresentam maior inclinação a acreditar em mensagens governamentais.
Racismo e desigualdades
No recorte por classe social, a classe A demonstra maior confiança no empresariado e no Estado, enquanto a classe B aparece como a mais crítica. Para a população negra, temas como violência, corrupção, desigualdade social, inflação e racismo institucional são os que mais afetam a vida coletiva e individual.
Os segmentos que mais conquistaram consumidores negros são os de higiene, beleza, moda e comércio eletrônico, por adotarem práticas mais inclusivas. Em contrapartida, shoppings, supermercados e setores de atendimento presencial ainda são apontados como ambientes com maior incidência de discriminação.
Um em cada três entrevistados relatou ter vivido algum episódio de racismo ao comprar produtos ou contratar serviços no último ano, frequentemente por meio de atitudes sutis, como olhares de desconfiança ou abordagens diferenciadas.



















