Agrofloresta transforma áreas de queimada em produção sustentável no Marajó

Famílias de Salvaterra adotam sistemas agroflorestais e convertem terras degradadas por queimadas em fontes de renda e regeneração ambiental.

Fonte: CenárioMT

Agrofloresta transforma áreas de queimada em produção sustentável no Marajó
Foto: Giorgio Venturieri/Embrapa

Na Ilha do Marajó, o fogo que antes devastava a floresta cedeu espaço à recuperação ambiental e à prosperidade das famílias locais. Em Salvaterra, o agricultor e pescador Ronildo Pacheco é um dos protagonistas dessa transformação, aplicando o Sistema Agroflorestal (SAF), método que combina cultivo agrícola e reflorestamento.

Antes, Ronildo cultivava apenas abacaxi em quatro hectares do Sítio Retiro Emanuel. Hoje, colhe meia tonelada de açaí por dia durante a safra, além de produzir acerola, taperebá, cacau, milho e mandioca. As técnicas empregadas incluem sombreamento natural entre espécies e o uso de adubo de caroço de açaí seco, reduzindo o impacto ambiental.

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“A agrofloresta permite plantar no mesmo local, sem queimar. E garante renda o ano inteiro, diferente da monocultura do abacaxi”, destaca o agricultor.

A mudança foi impulsionada pelo Projeto Sustenta e Inova, parceria entre o Sebrae e a Embrapa, com financiamento da União Europeia. Ronildo integra, junto com outras 30 famílias, a Cooperativa Agropecuária e de Pesca Artesanal de Monsarás (COOPAPAM), responsável por restaurar áreas degradadas e incentivar práticas sustentáveis.

O impacto positivo chega também à nova geração. Jamile Pacheco, filha de Ronildo, de 18 anos, atua como secretária e guia de turismo na propriedade. Estudante de secretariado na UFPA, ela ajuda na divulgação dos benefícios do sistema agroflorestal. “Antes se queimava muito a terra para o abacaxi. Agora temos mais sombra e nutrientes para o solo”, conta.

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O papel do açaí

O açaí se tornou símbolo dessa mudança. Base da alimentação local e produto de destaque no mercado nacional, sua colheita movimenta comunidades inteiras entre julho e janeiro. O agricultor Walter Antônio dos Santos Barbosa participa da colheita e reforça o esforço do trabalho. “É cansativo, mas gratificante. Quem consome precisa valorizar todo esse processo”, comenta.

Apesar dos avanços, a falta de sistemas de irrigação ainda é um desafio. “Sem água, não há produção. Conseguimos implantar cinco poços e outros sete estão a caminho, mas ainda é pouco”, explica Ronildo, preocupado com o futuro da cadeia produtiva. “Se nada mudar, pode faltar açaí para abastecer a população”, alerta.

*Reportagem realizada a convite do Sebrae.

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Gustavo Praiado é jornalista com foco em notícias de agricultura. Com uma sólida formação acadêmica e vasta experiência no setor, Gustavo se destaca na cobertura de temas relacionados ao agronegócio, desde insumos até tendências e desafios do setor. Atualmente, ele contribui com análises e reportagens detalhadas sobre o mercado agrícola, oferecendo informações relevantes para produtores, investidores e demais profissionais da área.