O delegado Rafael Mello, do Núcleo de Pessoas Desaparecidas (NPD), afirmou que o caso do jovem venezuelano encontrado em Rondônia revela um padrão recorrente de deslocamentos espontâneos entre migrantes que vivem em situação vulnerável em Mato Grosso. Segundo ele, episódios semelhantes aumentaram 23% em 2024, impulsionados por fatores econômicos e pela falta de assistência social.
O jovem Jesus David Cataldy Lunar, de 20 anos, estava desaparecido há 18 dias em Cuiabá e foi localizado na tarde de quinta-feira (9) em Ji-Paraná (RO), a mais de 1.060 quilômetros da capital. Conforme informações do NPD, ele teria deixado o estado de carona e procurado a Polícia Federal para solicitar a própria extradição de volta à Venezuela.
Durante o trajeto, o rapaz sobreviveu realizando pequenos trabalhos e serviços eventuais em postos de combustíveis, trocando força de trabalho por comida e pequenas quantias. “Ele contou que descarregava caminhões e seguia viagem com ajuda de caminhoneiros solidários”, relatou o delegado Mello, destacando o caráter voluntário da jornada.
Desaparecimento e mobilização em Cuiabá
Jesus trabalhava na limpeza de um terreno no Contorno Leste, região periférica da capital. Segundo a proprietária do lote, que auxiliou nas buscas, ele havia desaparecido sem aviso, deixando para trás os pertences pessoais. A família, residente em área próxima, registrou o desaparecimento em 22 de setembro, o que deu início à investigação conduzida pelo NPD.
De acordo com o boletim de ocorrência, o jovem não fazia uso de drogas e não apresentava histórico de transtornos mentais. A Polícia Civil informou que o caso mobilizou equipes em diferentes municípios, uma vez que havia suspeita de deslocamento interestadual — cenário que se confirmou após o contato feito por Jesus com a PF de Ji-Paraná.
Encaminhamento e contexto regional
Após o atendimento na unidade federal, o jovem foi direcionado à Secretaria de Assistência Social (Semas) do município, que deve providenciar o retorno dele à fronteira. A previsão é que ele seja encaminhado até Pacaraima (RO), ponto de passagem entre o Brasil e a Venezuela, onde será acolhido por equipes de apoio humanitário.
Casos como o de Jesus Cataldy evidenciam a crescente vulnerabilidade da comunidade migrante em Mato Grosso. Segundo levantamento da Secretaria de Estado de Assistência Social, cerca de 1.200 venezuelanos passaram por abrigos ou programas de retorno assistido no último ano, número 18% maior que o de 2023.
As informações foram confirmadas pela Polícia Civil e pela assessoria da Polícia Federal de Rondônia. Familiares do jovem já foram contatados e acompanham o processo de repatriação.
Em casos de desaparecimento, a orientação é registrar o boletim de ocorrência imediatamente e fornecer o máximo de informações possíveis. O Núcleo de Pessoas Desaparecidas atende pelo número 197, canal direto da Polícia Civil.
