Tensão em Itanhangá: Operação do Incra desaloja famílias e gera revolta

Início de reintegrações de posse no projeto de assentamento Tapurah/Itanhangá deixa assentados e autoridades locais em estado de indignação

Fonte: CenárioMT

População se mobiliza em busca de apoio contra a ação do Incra em Itanhangá (Foto: Reprodução)

O Incra deu início na terça-feira (23) ao processo de reintegração de posse no assentamento Tapurah/Itanhangá, a 429 km de Cuiabá, no Mato Grosso. Segundo o órgão federal, os lotes estavam indevidamente ocupados e agora serão destinados ao público da reforma agrária.

A diretora da Câmara de Conciliação Agrária, Maíra Coraci, diz que os trabalhos de retomada judicial dos lotes ocupados irregularmente demonstra o compromisso do Incra com a retomada da reforma agrária. “Essa ação contribui com a pacificação de um antigo conflito no Mato Grosso ao assentar famílias vulneráveis previamente selecionadas em edital, além de combater a concentração ilegal de terras públicas.”

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A ação de reintegração de posse foi acompanhada pela Polícia Federal. Os mandados foram emitidos em ações civis públicas movidas pelo Incra na Justiça Federal de Diamantino-MT, com o objetivo de retomar parcelas ocupadas. De acordo com informações da Polícia Militar, 56 lotes foram vistoriados, onde há habitações, e outros 83 lotes possuem plantações agrícolas e pasto para pecuária.

Segundo a mídia local, em um estudo realizado pela Polícia Militar sobre a situação dos lotes, foi identificado que: “Dentre as propriedades identificadas na área loteada, somente 43 assentados foram localizados em suas casas, sendo registrada a presença de 47 homens, 71 mulheres, 7 adolescentes, 46 crianças e 40 idosos. Contudo, este quantitativo pode ser maior, uma vez que, em 15 lotes, não foram encontradas pessoas. Possivelmente se evadiram do local ao serem informados da presença da Polícia Militar na região.”

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Os dados coletados indicam que as áreas dos 43 assentados somam 3.878 alqueires, e contam com a criação de 3.296 cabeças de gado, 2.281 galinhas, 34 cavalos, 126 porcos e 89 carneiros.

Desde 2022, o Incra tem ajuizado ações civis públicas para a retomada de parcelas de assentamento, conseguindo liminares favoráveis para a reintegração de posse pela Justiça Federal de Diamantino-MT. No entanto, os assentados afirmam que não tiveram oportunidade de apresentar contestação ou buscar uma conciliação, o que gerou grande descontentamento.

Um dos afetados, que teve a reintegração de posse executada em 24 de julho de 2024, desabafou: “Não fomos ouvidos e não tivemos chance de defesa. Estamos há mais de 20 anos plantando em nossa gleba, temos matrícula com cláusula resolutiva e o Incra não analisou nosso pedido de baixa. Estamos produzindo na área e o Incra alega que não estamos cumprindo a função social? Essa é nossa pena, sair sem direito a nada depois de 20 anos? Sair sem o direito de defesa? É uma injustiça!”

No dia 24 de julho de 2024, a situação atingiu um novo patamar quando mais de 1.000 pessoas, incluindo a população de Itanhangá, se reuniram em frente à prefeitura em busca de informações do prefeito Edu Laudi Pascoski sobre as reintegrações.

Segundo o prefeito de Itanhangá, a situação é “caótica e surreal”. Ele afirmou: “Não estamos acreditando no que estamos vendo! Famílias desesperadas sem ter para onde ir, pessoas que fazem parte da história do município. Essas famílias são trabalhadoras e conseguiram progredir com seu trabalho. Não há nada de errado aqui, e o Incra não está agindo de forma correta, pois não está respeitando as etapas para as reintegrações de posse que o Conselho Nacional de Justiça estabeleceu na Resolução 510. Para onde essas famílias irão? A cidade já está um caos com essas reintegrações.”

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o Incra realizando a desocupação das glebas e sorteando novas famílias para serem assentadas nas áreas desocupadas, o que gerou ainda mais indignação entre a população.

As informações indicam que as novas famílias foram selecionadas sem critério, já sendo contempladas com áreas que estavam produzindo, com casas, construções e estruturas criadas por aqueles que viveram ali por mais de 20 anos, agora expulsos de suas casas, muitas vezes com o uso de força policial, segundo relatos locais.

Produtores rurais das áreas afetadas defendem que o projeto de assentamento Tapurah, com uma área de 115.000 hectares, já está emancipado e consolidado desde 2015, de acordo com informações do site do Incra. Eles argumentam que o Incra não teria mais o direito e a legitimidade para buscar essas reintegrações de posse.

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Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT