A Usina Hidrelétrica Colíder, localizada no rio Teles Pires, está sob alerta técnico e ambiental. Um relatório elaborado pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) identificou uma série de falhas estruturais críticas na barragem e impactos ambientais significativos. O documento sugere a necessidade de uma revisão estratégica da usina, podendo até mesmo considerar sua desativação.
A vistoria, realizada em agosto de 2025, constatou falhas no sistema de drenagem da barragem, um problema que pode levar à progressão da erosão interna, conhecida como piping. O relatório aponta que dos 70 drenos avaliados, 18 apresentaram carreamento de materiais, cinco se romperam e três foram tamponados por segurança, demonstrando a gravidade da situação.
Como medida emergencial, a Eletrobras iniciou o rebaixamento do nível do reservatório, mas a operação causou graves impactos ambientais. Foram registrados episódios de mortandade de peixes, com resgate de 22 mil indivíduos vivos, mas também a coleta de 1.541 peixes mortos, totalizando mais de 212 quilos de biomassa perdida. Desde 2014, o prejuízo total no rio Teles Pires, em razão da operação das usinas, supera 89 mil quilos de peixes mortos, com a maior parte atribuída à UHE Colíder.
A bióloga e membro do Conselho Estadual de Pesca, Luciana Ferraz, ressaltou que a mortandade de peixes também afeta a segurança alimentar das comunidades. Um estudo científico indica que as 89 toneladas perdidas seriam suficientes para fornecer pescado para mais de 2.600 pessoas durante seis anos, evidenciando um grave desperdício de recursos.
O relatório também apontou a vulnerabilidade das comunidades próximas. A Zona de Autossalvamento (ZAS), área de evacuação em caso de emergência, tem um sistema de alerta considerado frágil e a efetividade das ações de comunicação está comprometida.
O relatório técnico, elaborado por especialistas, recomenda a realização de um estudo aprofundado para avaliar a desativação ou descaracterização da UHE Colíder, conforme previsto na Política Nacional de Segurança de Barragens. O procurador de Justiça Gerson Barbosa destacou que o documento é robusto e reforça a necessidade de medidas preventivas e corretivas urgentes. A atuação conjunta do MPMT e das Promotorias de Justiça de comarcas impactadas segue o acompanhamento do processo.