População se aglomera em filas quilométricas e tem que almoçar no chão à espera de auxílio-emergencial

Fonte: OLHAR DIRETO

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Diabético, o motorista de aplicativo Emerson Saldanha, 46, não teve escolha nesta semana quando, pela terceira vez em três dias, teve que ir até uma agência da Caixa Econômica Federal em busca do auxílio-emergencial do governo. O chamado ‘coronavoucher’ prometia um fôlego de R$600 nas finanças da família, mas consegui-lo se tornou um verdadeiro pesadelo. Nesta quarta-feira (29), o cuiabano chegou às 8h30 da manhã, e às 13 horas ainda não tinha sido atendido. Na fila, sua espera era um misto de calor, revolta e medo de ser infectado.

“Estou tentando desde segunda-feira e não consegui. O aplicativo não gera o código… é impossível acessar esse aplicativo! Se a Caixa tivesse encontrado outra maneira de pagar a gente, que não esse código, não teria essa fila que está aqui. Isso é um absurdo!”, lamentou, revoltado com a situação.

Emerson é mais um dos milhares de brasileiros que ainda não conseguiram o auxílio emergencial de R$600. O saque do dinheiro foi autorizado na última segunda-feira (27). Antes disso, ele só poderia ser utilizado via cartão de débito ou para transferências e pagamentos realizados via internet.

A cena das filas quilométricas se repete, e hoje chamou a atenção na avenida Barão de Melgaço, em Cuiabá. “Segunda-feira me fizeram ficar na fila e falaram que na agência eles geravam o código. Fiquei 3h30 na fila, chegou na minha vez e não geraram o código. Vim ontem de novo, e nada. Hoje diz que estão pagando sem o tal do código”, afirmou o motorista à reportagem.

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Apesar de ser do grupo de risco para o novo coronavírus, ele afirma que não tem a opção de aguardar em casa. “Tenho medo, mas eu preciso do dinheiro, e não tem outra maneira de a Caixa pagar… então sou obrigado a ficar na fila”, afirma. “O aplicativo é impossível de acessar. É auxilio não-emergencial, essa é a verdade. Está fazendo o povo de besta. Se você vem no banco com seus documentos e comprova que você é você, porque que não pagam? É absurdo isso”.

Outra cidadã que ficou pelo menos cinco horas na fila para tentar sacar seu auxílio foi Poliana, de 35 anos. Ela afirmou que até foi de máscara, mas tem consciência de que o perigo está por toda parte. “A gente está se protegendo com a máscara, mas as mãos estão livres. E vira e mexe eu tiro pra fumar, compro um lanche ou uma água… vai que na água vem [o vírus], que o vendedor está contaminado? A gente está exposto a tudo”, lamenta.

O problema de Poliana é parecido com o de Emerson: pane no aplicativo. “É desumano. Muitas pessoas fazem o processo, mas quando chega na senha, não manda, então não sabe se tem o dinheiro. Tem que ter a senha… muita gente está aqui porque não tem a conta ‘Tem’, e quando vai fornecer o código, não aparece.

Entenda

Os R$600 para os trabalhadores que não tem conta em banco – ou não informaram uma conta no cadastro – foram liberados na última segunda-feira (27). Para isso, a Caixa criou uma conta poupança digital gratuita para os usuários. No aplicativo da ‘Caixa Tem’ (citado por Poliana), o trabalhador deve escolher o ‘saque sem cartão.’ Depois disso, é gerado um código para o saque, e é pedida a senha do aplicativo.

O trabalhador, então, deve digitar a senha. Em seguida, é gerado um código de seis números na tela. Este código deve ser digitado no caixa eletrônico ou informado na lotérica, para que o saque seja realizado. A reclamação, no entanto, é de que o aplicativo apresenta problemas, e este código não aparece, deixando os usuários na mão.