Um levantamento inédito divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), nesta quinta-feira (10), trouxe à tona uma realidade alarmante para as crianças de Mato Grosso: 74 a cada 100 vivem em situação de pobreza multidimensional.
Isso significa que a vasta maioria das crianças mato-grossenses enfrenta pelo menos uma grave privação em áreas cruciais para seu desenvolvimento, como educação, moradia, saneamento básico, acesso à água potável, segurança alimentar e renda familiar.
A divulgação dos dados, ocorrida durante um evento na Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), em Cuiabá, veio acompanhada de um apelo urgente para que mais municípios do estado adiram à nova edição do Selo Unicef (2025/2028). Essa iniciativa é crucial, pois fomenta ações concretas para garantir os direitos de crianças e adolescentes, com foco em saúde, educação, proteção social e combate à violência.
O estudo do Unicef, intitulado “Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência (2017/2023)”, utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes ao período entre 2019 e 2023. A análise abrangeu oito dimensões fundamentais da vida infantil: educação, informação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento, renda e segurança alimentar.
Além da complexa teia da pobreza, o levantamento revelou outros indicadores igualmente preocupantes para Mato Grosso. Entre 2022 e 2023, por exemplo, o estado testemunhou um aumento chocante de mais de 450% nas mortes violentas intencionais de crianças de 0 a 9 anos, conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Este número expõe a fragilidade dos mecanismos de proteção infantil existentes.
A saúde pública também apresentou um cenário de retrocesso. O Anuário VacinaBR indicou que as taxas de imunização infantil caíram para patamares inferiores aos registrados em 2010. Essa queda acende um alerta vermelho para o risco de retorno de doenças que já haviam sido controladas ou até erradicadas, como sarampo, rubéola e poliomielite.