Pesquisadora da Unemat faz alerta preocupante sobre crise climática em Mato Grosso

Fonte: CenarioMT

pesquisadora unemat

O avanço do desmatamento e os efeitos cada vez mais severos da crise climática têm deixado marcas profundas em Mato Grosso, onde verões mais longos e secos, chuvas irregulares, rios com volume reduzido e impactos diretos sobre populações tradicionais já se tornaram realidade. Para a professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Solange Kimie Ikeda Castrillon, o cenário exige atenção imediata. “As mudanças climáticas levam à diminuição de chuva e, por causa da degradação das nascentes, a água deixa de chegar”, alerta.

Bióloga, doutora em Ecologia e Recursos Naturais, Ikeda explica que os efeitos do aquecimento global são potencializados pela destruição de florestas e áreas de recarga hídrica, o que compromete diretamente o regime de chuvas e a disponibilidade de água potável. “Estamos com a temperatura aumentando, com diminuição de chuvas, com problemas de falta de água, contaminação de água e problemas de saúde de forma generalizada. Já é uma preocupação a escassez hídrica. Se essa água vier contaminada, o problema se agrava”, reforça.

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Com três dos mais importantes biomas brasileiros — Amazônia, Cerrado e Pantanal — Mato Grosso tem papel estratégico no enfrentamento à emergência climática global. No entanto, o desmatamento avança de forma desenfreada. Segundo o Instituto Centro de Vida (ICV), 78,6% do desmatamento na Amazônia mato-grossense em 2024 foi ilegal. No Cerrado, esse índice foi de 63,6%.

Para Ikeda, os prejuízos vão além do meio ambiente e atingem em cheio a segurança alimentar. Com a falta de chuvas e o aumento das temperaturas, lavouras e pastagens são afetadas, comprometendo a produção agrícola e a pecuária. “Vai faltar comida, vai faltar pasto. Não é só terra que a gente precisa pra ter boi. Se não chover em outubro, novembro e dezembro, quem trabalha com plantação e criação entrará em desespero”, afirma.

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A pesquisadora também critica decisões políticas que, segundo ela, fragilizam a legislação ambiental, como o Projeto de Lei 2.159/2021, conhecido como “PL da Devastação”, que flexibiliza o licenciamento de empreendimentos e aguarda decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Hidrelétricas já secaram rios inteiros sem consulta às comunidades afetadas”, denuncia.

Plantar como ato de resistência

Em Cáceres, onde mora, Solange Ikeda coordena projetos de restauração ecológica com professores, pequenos agricultores e crianças, promovendo o plantio de mudas nativas e ações de educação ambiental. Para ela, o envolvimento da população é uma forma concreta de resistência. “A maioria das pessoas desse planeta não quer degradar. Quando a gente vai plantar com crianças e agricultores, é possível ver no rosto das pessoas o quanto cuidar da natureza é um ato de esperança”, relata.

Segundo Ikeda, o futuro da vida humana estará diretamente ligado à preservação da vegetação nativa. “Os estudos indicam que, no futuro, lugares onde houver árvores vão determinar se as pessoas vão sobreviver ou não. Um lugar totalmente desmatado, com aumento da temperatura, não oferece conforto térmico nem saúde”, conclui.

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Formado em Jornalismo, possui sólida experiência em produção textual. Atualmente, dedica-se à redação do CenárioMT, onde é responsável por criar conteúdos sobre política, economia e esporte regional. Além disso, foca em temas relacionados ao setor agro, contribuindo com análises e reportagens que abordam a importância e os desafios desse segmento essencial para Mato Grosso. Cargo: Jornalista, DRT: 0001781-MT