Pesquisa em Mato Grosso busca clones de alto potencial para cafés especiais

Onze clones alcançaram notas entre 81 e 82 pontos na escala da avaliação, sendo considerados de bebida com alto potencial para o mercado de cafés especiais.

Fonte: CENÁRIOMT

Pesquisa em Mato Grosso busca clones de alto potencial para cafes especiais
Pesquisa em Mato Grosso busca clones de alto potencial para cafés especiais

O futuro da cafeicultura em Mato Grosso está sendo moldado nos campos experimentais de Tangará da Serra e Sinop. Pesquisadores estão validando 50 clones de Coffea canephora (robusta amazônico) em um estudo financiado pelo Edital FAPEMAT 012/2023- Agricultura Familiar, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat). O objetivo é ambicioso: identificar cultivares de café adaptadas ao clima e solo do estado que unam alta produtividade e qualidade de bebida, impulsionando a cafeicultura local de forma mais eficiente e rentável.

O Coffea canephora, espécie originária da África Central e cultivada no Brasil principalmente nas variedades Conilon e Robusta, tem no “Robusta Amazônico” uma esperança.

Esse termo se refere a híbridos desenvolvidos pela Embrapa, resultantes do cruzamento dessas duas variedades, que se mostraram adaptados à região amazônica.

O projeto é fruto de uma parceria estratégica entre a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Extensão e Assistência Técnica (Empaer), a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SEAF) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/RO). Entre os 50 clones avaliados, dez foram desenvolvidos pela Embrapa, e quarenta foram selecionados a partir de cruzamentos naturais.

Produtividade, ciclo e qualidade: O que revelou a primeira safra

Os resultados da primeira safra comercial (2023) já trouxeram informações valiosas, analisando três aspectos principais: produtividade, ciclo de maturação e qualidade da bebida.

No ciclo de maturação, os clones apresentaram grande diversidade, variando entre ciclos precoces (a partir de 228 dias) e tardios (até 324 dias). O clone AS10 destacou-se com o menor ciclo, enquanto o OP130 foi o mais lento para maturar. Essa variação pode ser uma vantagem estratégica para os produtores, permitindo que eles escalonem a colheita, distribuindo melhor o trabalho nas lavouras e otimizando a mão de obra.

A qualidade da bebida foi avaliada por meio de análise sensorial conduzida pelo Centro de Cafés Especiais do Espírito Santo (CECAFES), que dividiu os clones em quatro grupos. Uma excelente notícia é que onze clones alcançaram notas entre 81 e 82 pontos, classificando-os como bebida fina, com alto potencial para o promissor mercado de cafés especiais. Entre esses destaques, estão os clones AS2, AS12, BG180, R152, Clone 25, Clone 01 e BRS2314.

Outros nove clones também atingiram a nota 80, entrando na categoria de bebida fina. Vinte e quatro clones ficaram próximos do padrão de excelência, com notas entre 78 e 79, enquanto apenas seis apresentaram qualidade sensorial inferior.

Transferência de tecnologia e impactos na agricultura familiar

A pesquisa também gerou impacto direto na difusão de tecnologia, com a realização em maio de 2024 do “Dia de Campo”, em Sinop, onde reuniu 193 pessoas, entre agricultores, técnicos e pesquisadores. No evento foram apresentados resultados em quatro estações temáticas, facilitando o acesso à informação por parte dos produtores familiares.

A Empaer produziu cerca de 20 mil mudas dos clones avaliados em 2023. Em 2024, foram 10 mil mudas, fomentando a ampliação da cafeicultura nos municípios envolvidos.

Projeção para o setor

Segundos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produtividade média do café em Mato Grosso foi 22,6 sacas/ha em 2023 e em 2014 era de 8,2 sacas /ha. Se comparado a produtividade de 2014 a 2023, houve aumento de mais de 180%. Esse ganho é devido, entre outros aspectos, ao cultivo de variedades clonais de robustas amazônicos, fato que demonstra que a produtividade ainda irá aumentar, em função do uso de clones mais adaptados ao clima e solo mato-grossense.

A coordenadora do projeto de pesquisa, doutora Danielle Helena Müller, sugere “que o uso dos clones validados pode ampliar ainda mais essa média, ao promover cultivares mais adaptadas ao estado, além da produtividade, a diversidade observada nos clones robustas amazônicos cultivados em Mato Grosso, tem despertado interesse de especialistas em cafés especiais. As condições locais, como clima e solo, parecem contribuir para características sensoriais únicas, não encontradas em outras regiões produtoras”.

Próximos passos

“Com a safra de 2023, foram realizadas análises estatísticas e sensoriais preliminares. É importante ressaltar que esses resultados iniciais serão consolidados com os dados das safras de 2024 e 2025. Os resultados consolidados serão apresentados em 2026, durante um novo Dia de Campo. Portanto, o estudo segue acompanhando o desempenho dos clones nas próximas safras, com o objetivo de estabelecer uma nova base produtiva para a cafeicultura no estado”, destacou a pesquisadora.