Um estudo acadêmico realizado na EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV EPGE) lança novas luzes sobre uma das questões mais urgentes do meio ambiente brasileiro: a seca no Pantanal. A dissertação de mestrado de Vinícius Hector, orientada pelo professor Francisco Costa, investigou as causas do agravamento da crise hídrica no maior bioma úmido continental do planeta e trouxe evidências inéditas que relacionam diretamente o desmatamento às mudanças no regime de águas.
Intitulado “Dry Wetland: Water Scarcity in the Brazilian Pantanal”, o trabalho utilizou ferramentas avançadas de econometria para responder a uma dúvida central: a escassez hídrica resulta de menor volume de chuvas ou da intervenção humana nas áreas de nascente? Os resultados foram claros. A redução da água que chega ao Pantanal não está ligada apenas às variações climáticas, mas sobretudo ao avanço do desmatamento nas regiões de Cerrado que alimentam o bioma.
De acordo com Hector, a degradação das áreas de nascente afeta diretamente o fluxo hídrico rio abaixo. A consequência é dupla: além de reduzir o volume de água que sustenta a biodiversidade pantaneira, o fenômeno intensifica a vulnerabilidade da vegetação ao fogo, ampliando a ocorrência de incêndios devastadores que têm marcado o noticiário da última década.
O ineditismo do estudo está na aplicação de métodos estatísticos capazes de mensurar de forma objetiva o impacto do desmatamento sobre as mudanças hidrológicas. Até então, o debate se apoiava em análises descritivas ou qualitativas. Agora, com evidências empíricas robustas, abre-se um campo mais sólido para políticas públicas de preservação.
A pesquisa não se limita à análise técnica: ela aponta caminhos práticos para enfrentar o problema. A principal recomendação é a preservação das áreas de Cerrado próximas ao Pantanal, reconhecendo que a saúde hídrica do bioma depende diretamente da manutenção dessas regiões como berços de recarga e distribuição de água.
Ao conectar ciência e gestão ambiental, o trabalho de Vinícius Hector reforça a urgência de políticas integradas que unam combate ao desmatamento, recuperação de áreas degradadas e prevenção de incêndios. Para um bioma que é patrimônio natural e cultural do Brasil, a mensagem é direta: proteger o Cerrado é salvar o Pantanal.