Com uma abordagem histórica profunda, a historiadora Mary Del Priore apresentou, em palestra promovida pelo Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), nesta quarta-feira (01), os múltiplos significados da velhice ao longo dos séculos no Brasil, desde o respeito aos anciãos nas sociedades indígenas até os desafios contemporâneos de invisibilidade, solidão e políticas públicas para uma população que envelhece rapidamente.
O procurador de Justiça José Antônio Borges Pereira, titular da Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa da Cidadania, Consumidor, Direitos Humanos, Minorias, Segurança Alimentar e Estado Laico, destacou a importância de refletir sobre o envelhecimento no Brasil. “É necessário que saibamos da nossa história para termos uma visão crítica do futuro. A velhice precisa ser encarada com dignidade e respeito, e o Ministério Público tem papel fundamental na construção dessa cultura”, afirmou.
A palestra teve como mediador o vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, Jerônimo Urei, e contou com a presença de membros e servidores do MPMT, além de representantes da sociedade civil.
Mary Del Priore conduziu uma verdadeira viagem pela história da velhice no Brasil, abordando desde o período colonial até os desafios contemporâneos. “A velhice é um complexo biológico, psicológico e social. Desde que nascemos, estamos fadados a envelhecer. Não adianta criarmos eufemismos como ‘melhor idade’ ou ‘envelhecência’. Precisamos encarar a velhice com seriedade e responsabilidade”, pontuou.
A historiadora apresentou quatro grandes momentos históricos que moldaram a percepção da velhice no país: o período colonial, o império, o século XX com a invenção da aposentadoria, e as transformações culturais e sociais do século XXI. Ela destacou que, no passado, os idosos eram vistos como depositários de sabedoria e memória, mas que hoje enfrentam desafios como o isolamento, a invisibilidade e a fragilidade institucional.
“Estamos em um país que envelheceu antes de enriquecer. Daqui a 30 anos, teremos mais velhos do que jovens, e isso exigirá políticas públicas sérias e comprometidas com a dignidade da pessoa idosa”, alertou Del Priore.
Durante o debate, o procurador de Justiça provocou reflexões sobre as imagens herdadas da velhice e os impactos da digitalização. “Hoje, principalmente com a digitalização o neto que vai ensinar o avô e o avô já não sabe mais nada. Há um choque geracional muito grande”, disse.
A palestra também abordou temas sensíveis como a solidão na velhice, o papel das mulheres idosas, a cultura do cuidado e a necessidade de discutir a morte assistida com responsabilidade e ética. “A finitude precisa ser encarada com maturidade. Não podemos permitir que nossos idosos morram na solidão das UTIs, sem acolhimento e sem dignidade”, afirmou a historiadora.
Ao final, o procurador José Antônio Borges reforçou o compromisso do MPMT com a promoção dos direitos da pessoa idosa. “A cultura do cuidado precisa ser compartilhada. Não é ajuda, é responsabilidade. E o Ministério Público está atento a isso”, concluiu.
A palestra “Uma História de Velhice no Brasil”, ministrada pela historiadora, foi realizada em alusão ao Dia Nacional e Internacional da Pessoa Idosa. O evento foi promovido pela Procuradoria de Justiça Especializada na Defesa da Cidadania, Consumidor, Direitos Humanos, Minorias, Segurança Alimentar e Estado Laico, com organização do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional – Escola Institucional do MPMT.