Mulheres enfrentam desafios para fazer a diferença na luta pela preservação do meio ambiente

Cada uma a seu modo, elas contam suas histórias de superação para fazer a diferença na luta para manter a floresta em pé

Fonte: CenárioMT com Marcio Camilo/REM MT

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No dia em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher (8 de março), o REM Mato Grosso (do inglês, REDD para Pioneiro) conversa com mulheres que estão em posições profissionais estratégicas na preservação do meio ambiente no estado. Cada uma a seu modo, elas contam suas histórias de superação para fazer a diferença na luta para manter a floresta em pé.

Sensibilidade

A advogada Mauren Lazzaretti está à frente da secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) – uma das pastas mais importantes do Governo de Mato Grosso. Por ser mulher, Mauren entende que o esforço é dobrado, pois ela tem que desenvolver um trabalho de excelência buscando, ao mesmo tempo, um equilíbrio com a vida pessoal.

“Para nós mulheres, abdicar da família e da saúde é sempre muito sacrificante. Então, todos os dias nós temos que fazer um esforço enorme para tentar compatibilizar todas essas ações, continuar mantendo a serenidade, e nos mantermos também pessoas sensíveis. Porque isso é o diferencial das mulheres, a capacidade de ter empatia, sensibilidade, cuidado, dedicação e presteza naquelas ações que nós fazemos”, destaca a gestora.

Ela ressalta ainda que, na maioria  das vezes, é muito respeitada pelos colegas de trabalho na Sema-MT. No entanto, pondera que o Meio Ambiente ainda é um espaço de predominância masculina.

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“ Então, é inevitável que em alguns locais eu ainda passe por situações de discriminação. Às vezes é aquele comportamento de dúvida sobre o seu papel ou da sua competência ou condição de estar fazendo um bom trabalho à frente de um órgão como a Sema, que tem um papel tão relevante para o Estado”, avalia Mauren.

Resiliência e inteligência emocional

A bióloga e coordenadora do Programa REM MT, Lígia Vendramin, também teve que passar por esses preconceitos do machismo estrutural. Por muitas vezes, conta que se chateou com os assédios no ambiente de trabalho, mas nem por isso deixou de seguir em frente.

“Criei muita resiliência e desenvolvi inteligência emocional a partir dessas experiências ruins. Essa foi a maneira que eu encontrei de encarar o machismo”, destaca Lígia.

Em Mato Grosso, o REM MT é uma das principais políticas de Estado no combate ao destamento ilegal, em especial na Amazônia. Por isso, ela destaca que estar a frente de um programa dessa magnitude é desafiador independente da questão de gênero, mas o fato de ser mulher lhe ajuda a lidar com situações muito diversas que o cargo exige.

“Penso que as mulheres, via de regra, possuem uma sensibilidade muito apurada. E isso ajuda a enfrentar diferentes tipos de situações com pessoas de opiniões e ideologias diversas. E o REM MT tem justamente essa característica, pois dialogamos com diferentes públicos: do produtor de commodities a comunidades indígenas, por exemplo”, destaca.

Referência

Em Cotriguaçu, região Noroeste de Mato Grosso, temos a engenheira ambiental Silvana Inês Fuhr. O sucesso da atividade extrativista da região passa diretamente pelas mãos dela, que foi a autora do projeto Cutiando, apoiado pelo REM MT, que trouxe novas possibilidades de financiamento para Associação de Coletores(as) de Castanha do Brasil do PA Juruena (ACCPAJ).

Atualmente, o projeto possibilita que a associação compre equipamentos para beneficiar suas castanhas e dessa forma valorizar ainda mais o produto que já é comercializado em nível nacional.

Hoje Silvana está estabelecida como engenheira ambiental, em uma das regiões mais pressionadas pelo desmatamento no Estado. Mas, nem sempre foi assim. Ela lembra do seu primeiro trabalho importante, quando teve que enfrentar muito preconceito, inclusive de mulheres, e olhares masculinos de reprovação numa profissão ocupada majoritariamente por homens.

“Quando falei na primeira reunião, as mulheres envolvidas no projeto comentaram: nossa! ela sabe falar… Como assim sabe falar?! Eu estudei muito para saber o que sei. Já alguns colegas homens faziam comentários maldosos sobre mim para a chefia, sempre que tinham oportunidade. Ainda bem que meu chefe, à época, sempre foi uma pessoa esclarecida e não se deixou levar por isso”, recorda.

União para vencer o machismo

O machismo também atravessa a trajetória profissional da professora Kaianaku Kamaiura. Ela sempre foi uma das poucas mulheres que participava das reuniões políticas na Terra Indígena do povo Kamaiura, no Alto Xingu-MT. Seu protagonismo acabou incomodando muita gente da própria comunidade.

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“As reuniões eram sempre lideradas pelos caciques e tinha muito pouca participação de mulheres. Naquela época o meu esposo também trabalhava na escola, era professor, mas a família dele não aceitava que eu estivesse num posto superior ao dele. Enfrentei muita dificuldade, como calúnias e acusações contra minha reputação. Era vista como uma mulher vulgar por estar no meio dos homens. Acabei me separando”, relata.

Kaianaku sempre enfrentou os preconceitos de cabeça erguida e continuou tocando projetos para mudar a realidade social de seu povo. Tanto esforço valeu a pena. Nos últimos anos, ela foi convidada para ocupar uma série de cargos importantes, entre eles o da Superintendência de Assuntos Indígenas da Casa Civil de Mato Grosso, no ano de 2018. Atualmente ela é uma das principais lideranças da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), ocupando cargo de assessora técnica de gestão de equipes.

“Minha trajetória é marcada pela discriminação, pelo simples fato deu ser mulher. Mas hoje me sinto muito mais forte, porque somos muitas e estamos conquistando espaços tradicionalmente ocupados só por homens. O machismo sempre vai existir. Por isso, nós mulheres, precisamos realmente estar compromissadas entre a gente. Para nos unirmos quando uma de nossas for atacada, porque as raízes do machismo são muito profundas na sociedade não indígena e é reproduzida por nós indígenas também”, argumenta a liderança Kamaiura.