Apesar de Mato Grosso abrigar 19 dos 50 municípios brasileiros com o maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário, a expressiva geração de riqueza no setor não se traduz proporcionalmente em avanços sociais e melhoria da qualidade de vida para sua população. Esta é a principal conclusão do estudo “Agro & Condições de Vida”, da Agenda Pública, que analisou os maiores polos agrícolas do país sob a ótica de indicadores sociais.
A pesquisa utilizou uma escala de 0 a 1 e revelou um desempenho médio geral de 0,48 para as cidades avaliadas, sinalizando um nível de desenvolvimento intermediário e uma ampla margem para aprimoramento em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura. Nenhum dos municípios analisados atingiu a faixa considerada “alta” (acima de 0,60) no índice geral.
O levantamento, estruturado nos componentes “Condições de Vida” e “Desenvolvimento Rural”, baseou-se em 40 indicadores de acesso e desempenho. Os dados foram compilados de plataformas oficiais como IBGE, CadÚnico, Inep e Ministério da Saúde, abrangendo seis dimensões de serviços públicos: educação, saúde, infraestrutura, proteção social, desenvolvimento rural e gestão de qualidade.
Em Mato Grosso, Campos de Júlio (553 km a Noroeste de Cuiabá) destaca-se como o município que melhor equilibra a força do agronegócio com indicadores sociais favoráveis, conquistando a segunda melhor nota final do Brasil (0,55). Diamantino (208 km ao Médio-Norte de Cuiabá) também aparece entre os de melhor desempenho, na quarta posição geral, com 0,54. Para fins de comparação, o melhor resultado nacional foi de Cascavel (PR), com 0,57, e o menor, de Correntina (BA), com 0,42.
Contrariando sua posição como líder no ranking de PIB agropecuário do país (R$ 8,3 bilhões em 2023), Sorriso (420 km ao Norte de Cuiabá) não obteve bons resultados na avaliação de desenvolvimento social. O município alcançou um desempenho geral de apenas 0,47, classificando-se na 29ª posição. Seu indicador mais forte foi em gestão de qualidade (0,60), enquanto o de desenvolvimento rural foi o mais baixo (0,23).
Descolamento entre riqueza e bem-estar em Mato Grosso
Os responsáveis pelo estudo apontam um “descolamento expressivo entre geração de riqueza e qualidade do desenvolvimento” nos municípios do agronegócio. Casos como Sorriso, em Mato Grosso, e Formosa do Rio Preto (BA) são exemplos claros dessa assimetria: embora sejam economicamente potentes no agro, suas posições são baixas em termos de desenvolvimento rural e bem-estar.
Isso sugere que a prosperidade econômica por si só não garante a promoção de bem-estar, inclusão produtiva ou sustentabilidade no campo.
Sapezal (480 km a Noroeste de Cuiabá) apresentou o melhor desempenho em Mato Grosso no indicador de desenvolvimento rural, com média de 0,43. Canarana aparece em terceiro lugar no estado com 0,41, precedida por Tasso Fragoso (MA), que teve 0,42.