A qualidade do ar em Mato Grosso continua em estado de alerta.
Um levantamento inédito divulgado pelo MapBiomas Atmosfera revelou que o estado teve, em 2024, a segunda maior concentração média anual de material particulado fino (MP2,5) do país — 30 microgramas por metro cúbico (µg/m³).
O valor fica atrás apenas de Rondônia, que registrou 42 µg/m³ no mesmo período.
Os dados colocam Mato Grosso entre as regiões com ar mais poluído do Brasil, resultado direto da queima de biomassa, incêndios florestais e emissões agrícolas, fenômenos que se intensificaram nos últimos anos com o avanço do desmatamento e das secas prolongadas.
Fumaça e calor: uma combinação perigosa
O material particulado fino (MP2,5) é composto por partículas microscópicas suspensas no ar — e está entre os poluentes mais prejudiciais à saúde humana.
Segundo Luiz Augusto Toledo Machado, professor visitante da USP e membro da equipe do MapBiomas Atmosfera, essas partículas podem penetrar profundamente nos pulmões e até atingir a corrente sanguínea.
“O MP2,5 representa uma das formas mais nocivas de poluição atmosférica. Está presente na fumaça das queimadas, na queima de combustíveis fósseis e em atividades agroindustriais. A exposição contínua agrava doenças respiratórias e cardiovasculares”, explicou Machado.
O estudo mostra que a fumaça dos incêndios em 2024 elevou a concentração média nacional de MP2,5 para 24,8 µg/m³, com destaque negativo para a Amazônia e o Cerrado, que juntos respondem pela maior parte das emissões no país.
Amazônia e Pantanal esquentam acima da média
Além da poluição, a nova ferramenta do MapBiomas aponta que Mato Grosso está entre os estados que mais aqueceram nas últimas quatro décadas, com uma taxa de aumento de temperatura de 0,37°C por década, superior à média nacional (0,29°C).
O levantamento mostra que alguns biomas estão aquecendo de forma alarmante:
- Pantanal: +0,47°C por década — o maior índice do Brasil;
- Cerrado: +0,31°C por década;
- Amazônia: +0,29°C por década;
- Mata Atlântica e Caatinga: entre +0,21°C e +0,25°C.
Em 2024, o país registrou a maior anomalia térmica dos últimos 40 anos, com temperaturas 1,2°C acima da média histórica. No Pantanal, o aumento chegou a 1,8°C, ultrapassando o limite ideal estabelecido pelo Acordo de Paris.
Queimadas e secas agravam o quadro
O MapBiomas atribui a piora na qualidade do ar à redução das chuvas e ao aumento da área queimada.
Somente em 2024, 15,6 milhões de hectares foram atingidos por incêndios no Brasil, grande parte em Mato Grosso e Rondônia.
Com o solo mais seco e temperaturas elevadas, as queimadas se tornaram mais intensas e prolongadas, liberando grandes volumes de material particulado na atmosfera.
Além dos efeitos locais, o fenômeno amplia o impacto climático regional, contribuindo para a formação de ilhas de calor e para o desequilíbrio hídrico em ecossistemas sensíveis.
Monitoramento climático e políticas públicas
Lançada na última quarta-feira (5), a plataforma MapBiomas Atmosfera é uma ferramenta pública que reúne dados sobre temperatura, precipitação e poluentes atmosféricos em todo o território brasileiro.
Os registros cobrem o período de 1985 a 2024, utilizando imagens de satélite e modelagem global de dados atmosféricos.
O objetivo, segundo o consórcio, é auxiliar governos e instituições na formulação de políticas públicas baseadas em evidências, especialmente em regiões mais afetadas pela degradação ambiental e pelas mudanças climáticas.
“Os dados do MapBiomas permitem visualizar de forma clara onde o impacto climático é mais severo. Essa é uma base essencial para decisões que envolvem saúde, meio ambiente e planejamento urbano”, destaca Machado.
COP30 e o alerta global
Os números chegam em um momento simbólico: a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) começou nesta segunda-feira (10), em Belém (PA), e deve ter a qualidade do ar e o controle de queimadas como temas centrais.
Especialistas alertam que o Brasil, apesar dos avanços no combate ao desmatamento, ainda enfrenta desafios críticos para equilibrar produção agrícola e sustentabilidade ambiental, sobretudo em estados de grande extensão territorial como Mato Grosso.
Com informações de: MapBiomas, USP, Inpe e Observatório do Clima

















