Na manhã desta quarta-feira (29), a moradora Antonieta Barroso dos Santos, de 51 anos, foi identificada como a vítima do feminicídio ocorrido na Rua João Goulart, esquina com a Rua Gelindo Lira, no bairro Jaime Seiti Fujii, em Lucas do Rio Verde.
O crime aconteceu por volta das 5h, quando o ex-marido da vítima — que não aceitava o término do relacionamento, encerrado há cerca de um ano — invadiu a residência pulando o muro dos fundos e arrombou a porta da cozinha para atacar Antonieta com golpes de faca.
A filha da vítima interveio e foi ferida na mão, conseguiu correr para pedir socorro, mas Antonieta não resistiu aos ferimentos e morreu no local. O autor fugiu e segue sendo procurado pelas forças de segurança.
Investigações preliminares apontam que a motivação está na recusa do término do relacionamento e em ciúmes, já que a vítima recomeçava a vida com novo vínculo.
As equipes da Polícia Civil, Polícia Militar de Mato e Guarda Civil Municipal, realizam diligências para localizar o suspeito. O caso foi qualificado como feminicídio – homicídio praticado contra mulher em razão da sua condição de gênero.
Em Lucas do Rio Verde foram três casos de feminicídio neste ano de 2025, segundo registros locais. Já em Mato Grosso o panorama também é alarmante: dados do Observatório Caliandra, do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, indicam que mais de 70% dos feminicídios ocorrem dentro de casa e 43% envolvem armas branco-cortantes, como facas ou canivetes.
Outro relatório aponta que o estado lidera o índice nacional de feminicídios, com taxa de cerca de 2,5 casos por 100 mil mulheres em 2024 — acima da média nacional de 1,4.
Para chamar a atenção à gravidade da situação e orientar mulheres que enfrentam violência doméstica, a Guarda Civil Municipal de Lucas do Rio Verde através da equipe Patrulha Maria da Penha, faz algumas orientações, como comenta a GCM, Priscila Nogueira, afirma:
“Infelizmente, hoje, né, Lucas do Rio Verde amanheceu com uma notícia triste, perdemos aí uma senhora, de 51 anos pelo feminicídio. Infelizmente, por algum motivo, ela não havia denunciado, não havia procurado ajuda. Então ela é uma vítima que não tinha notificado a questão da violência que ela estava ali sofrendo… Muitas mulheres até as assistidas que a gente acompanha aqui, a gente orienta, nunca subestimar, né, o que o outro pode fazer. Às vezes, a violência começa com tapa, vai aumentando, agressões… mas muitas vezes o próximo passo é cometer um feminicídio. Então, o alerta é: a mulher, ela sempre está atenta aos sinais da violência, aos primeiros sinais de denunciar e se distanciar desse agressor.”

“O Mato Grosso ficou ali dois anos seguidos no ranking do feminicídio e esse ano nós já estamos à frente do ano passado. (…) A dica que eu dou é denunciar. (…) A denúncia é fundamental para que ela tenha ali os mecanismos de proteção, como a medida protetiva, o botão do pânico e outros serviços que são oferecidos para a rede. (…) E também, a denúncia demonstra… o primeiro passo para aquela quebra do ciclo da violência.”
Diante desse cenário, é fundamental que mulheres que enfrentam violência — seja física, verbal, emocional ou coercitiva — reconheçam os sinais de risco: controle excessivo, isolamento, histórico de agressões, ameaças, espirais de ciúmes ou possessividade que se agravam com o tempo. Em muitos casos de feminicídio, o agressor era companheiro ou ex-companheiro da vítima. No estado, segundo o Observatório Caliandra, entre 14 autores eram companheiros e 6 eram ex-companheiros ou namorados.
Orientações práticas para quem se encontra em situação de risco:
- Procure registrar boletim de ocorrência assim que houver agressão ou ameaça – mesmo que “aparentemente leve”. A notificação é o primeiro passo para acionamento de medidas.
- Solicite medida protetiva de urgência, que pode incluir afastamento do agressor, proibição de contato e acesso a recursos como o botão do pânico (se disponível).
- Busque apoio da rede local: a Patrulha Maria da Penha, delegacias especializadas, órgãos de assistência social, além de familiares e amigos de confiança.
- Elabore plano de segurança pessoal: locais seguros para ir, telefone de emergência, cópias de documentos, contatos de apoio, apesar do agressor tentar controlar a vida da vítima.
- Entenda que não há perfil “padrão” de vítima ou agressor — nenhuma mulher está imune porque tem emprego, estudo ou idade elevada. “Não tem regra”, como afirma a coordenadora Priscila Nogueira.
Este caso, em Lucas do Rio Verde, hipoteca mais do que a tragédia individual: revela que o município, apesar de menor porte, não está à margem dessa epidemia de violência de gênero no estado. A combinação do vínculo afetivo prévio, da recusa na separação, do uso de arma branca e do próprio lar como palco do crime, sintetiza o perfil observado em mais de 70% dos feminicídios em Mato Grosso.
É urgente, portanto, que a sociedade local — familiares, vizinhos, serviços públicos — estejam atentos aos sinais “invisíveis” e que deixem de encarar a denúncia como “último recurso”. Ao contrário: ela é a primeira e mais essencial linha de defesa para evitar que o ciclo da violência termine em feminicídio. Lucidez, articulação institucional e coragem para romper o silêncio são imperativos.
Em caso de risco iminente em Lucas do Rio Verde, acione a Polícia Militar (190) Polícia Civil (190) ou a Patrulha Maria da Penha, por meio da Guarda Civil Municipal (153) para orientação imediata e acolhimento.
















