Um incêndio atingiu parte de uma casa tradicional da comunidade Enawenê-nawê em Juína na tarde de domingo (26) e deixou ao menos uma moradora ferida na mão enquanto ajudava a conter as chamas. A estrutura de palha e madeira queimou rapidamente, mas o fogo foi controlado antes de alcançar outras residências.
Sem unidade do Corpo de Bombeiros por perto, os próprios indígenas se organizaram para impedir que o fogo se espalhasse. Segundo relatos de moradores, o incêndio começou de forma repentina e gerou um momento de tensão entre as cerca de 1.700 pessoas que vivem na comunidade.
De acordo com a Operação Amazônia Nativa (OPAN), apenas uma parte da construção foi consumida e o trabalho coletivo impediu que o incidente se transformasse em uma tragédia maior. A ONG atua no apoio às comunidades tradicionais na região do noroeste de Mato Grosso e acompanha a situação.
O indígena e influenciador Manax Enawenê, morador da aldeia, relatou ao Jornal Opção que a causa do fogo ainda não foi esclarecida. Ele mencionou duas possibilidades: acidente ou ação intencional. O susto foi agravado pela ausência de bombeiros no momento crítico, aumentando a sensação de impotência diante do avanço das chamas.
“Não sabemos ao certo o que causou o incêndio. Pode ter sido um acidente, mas também há suspeita de ação intencional. Foi desesperador, porque o fogo se alastrou rápido e não havia bombeiros por perto”, afirmou Manax. O relato mostra o quanto alguns segundos fizeram diferença para evitar que o fogo se alastrasse por toda a casa.
Moradores se uniram para controlar a situação, formando uma corrente humana para transportar água em baldes e galões. A estratégia improvisada exigiu rapidez e coragem dos indígenas, que se aproximaram repetidas vezes do local do fogo enquanto a estrutura ainda queimava.
“Fizemos o que estava ao nosso alcance. Foi perigoso, mas não podíamos deixar o fogo se espalhar”, acrescentou Manax. Uma mulher acabou com queimaduras na mão durante a ação e recebeu atendimento na própria aldeia.
O incidente reacendeu o debate interno sobre a segurança das construções tradicionais, feitas com materiais naturais e mais vulneráveis às chamas. A comunidade cobra agora investigação sobre a origem do incêndio e medidas de prevenção que não descaracterizem as moradias indígenas.
O episódio também evidencia a fragilidade das aldeias localizadas em áreas isoladas, onde o acesso a serviços públicos é limitado. Segundo Manax, o quartel do Corpo de Bombeiros mais próximo fica a mais de uma centena de quilômetros, tanto em Juína quanto em Vilhena, já no estado vizinho.
Em situações como essa, a legislação ambiental e cultural prevê proteção às aldeias e ao patrimônio imaterial, mas a distância de bases de emergência coloca essas comunidades em situação de maior risco. A investigação do caso deve ajudar a identificar se houve falha humana, curto-circuito ou eventual crime, o que poderá orientar eventuais ações preventivas.
Como desdobramento, a expectativa da comunidade é que autoridades locais se manifestem e ofereçam suporte para mitigar riscos semelhantes. Orientações de prevenção contra incêndios em construções com palha e madeira, adaptadas à realidade indígena, podem ajudar a reduzir danos futuros sem interferir nos costumes tradicionais.


















