A operação xapiri-sararé e seus primeiros resultados
Desde o início de agosto, fiscais do Ibama vêm percorrendo áreas de floresta, rios e acampamentos ilegais. O cenário encontrado é desolador: clareiras abertas em meio à mata, rios turvos e maquinário pesado espalhado como feridas abertas no coração da Amazônia mato-grossense. Até agora, foram inutilizados 100 escavadeiras hidráulicas, 317 motores estacionários, 431 acampamentos, 61 mil litros de combustível, além de veículos, armas, mercúrio e estruturas logísticas do garimpo ilegal.
O que impressiona não é apenas a quantidade de equipamentos destruídos, mas a dimensão da rede criminosa desarticulada. Em propriedades rurais da região, usadas como retaguarda do garimpo, os fiscais encontraram depósitos clandestinos de combustível e até um arsenal de mercúrio, substância altamente tóxica. Somente em uma dessas fazendas foram apreendidos quase 13 quilos desse metal, que se transforma em veneno invisível para rios e comunidades.
A explosão do garimpo na terra indígena sararé
Em 2025, a TI Sararé assumiu o posto de território com mais alertas de garimpo do Brasil: foram 1.814 registros em menos de um ano. Esse aumento se explica por dois fatores: a intensificação da repressão em outras regiões amazônicas, que empurrou criminosos para novas fronteiras, e a facilidade de acesso ao território, cercado por estradas vicinais e rotas clandestinas.
O resultado é visível até do espaço: 743 hectares de floresta nativa já foram destruídos. Cada árvore tombada, cada igarapé contaminado, representa não só uma perda ambiental, mas um ataque direto ao modo de vida dos Nambikwara, povo que há séculos mantém sua relação de equilíbrio com a natureza.
- Poluição: rios e igarapés sofrem com o mercúrio e o óleo despejados nas águas, além do assoreamento causado pela movimentação de terra. Esse envenenamento silencioso afeta peixes, animais e, claro, os próprios indígenas que dependem da água limpa.
- Desmatamento: a vegetação nativa é derrubada em ritmo acelerado, criando clareiras que se multiplicam como cicatrizes na floresta.
- Ameaça cultural: para o povo Nambikwara, a floresta não é apenas território físico, mas espaço espiritual e cultural. A invasão ameaça a transmissão de saberes e práticas tradicionais.
- Criminalidade organizada: o garimpo ilegal não é feito por aventureiros solitários. Ele alimenta e é alimentado por facções criminosas, que encontram nessa atividade uma nova fonte de poder e dinheiro.
Números da operação até agora
Entre 1º e 22 de agosto de 2025, os agentes registraram a apreensão ou destruição de:
- 431 acampamentos
- 100 escavadeiras hidráulicas
- 4 barcos
- 9 caminhonetes
- 12 caminhões de diferentes tipos
- 6 tratores de esteira
- 43 motocicletas
- 317 motores estacionários
- Mais de 61 mil litros de combustível
- Armas de fogo, munições e carregadores
- 12,4 kg de mercúrio
- 10 antenas de internet via satélite
Esses dados não são apenas estatísticas. Eles revelam o tamanho da engrenagem criminosa instalada em plena Terra Indígena Sararé e a necessidade urgente de freá-la.
Vale lembrar que, desde 2023, o instituto já havia apreendido cerca de 400 escavadeiras na região. Somadas às novas ações, esse esforço integra um plano mais amplo do governo federal que, entre 2022 e 2024, conseguiu reduzir em mais de 30% as áreas de mineração ilegal na Amazônia.
O que está em jogo vai muito além de hectares de floresta: trata-se da dignidade de um povo e da preservação de um patrimônio natural que pertence a todos os brasileiros.