O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) intensificou o combate ao garimpo ilegal e ao uso irregular de mercúrio em Mato Grosso com duas operações de grande impacto. As ações visam proteger o meio ambiente e as comunidades locais dos danos causados pela extração predatória de ouro.
Uma das operações, batizada de “Xapiri”, foi deflagrada na Terra Indígena (TI) Kayabi, em Apiacás (a 1.010 km ao Norte de Cuiabá). A outra fiscalização ocorreu em Poconé (a 104 km ao Sul da capital), cidade que serve como porta de entrada para o Pantanal Mato-grossense.
Na TI Kayabi, a força-tarefa do Ibama, com apoio do Batalhão de Operações Especiais de Mato Grosso (Bope–MT) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), destruiu um total de 23 balsas e 15 embarcações. Além disso, diversas estruturas logísticas e milhares de litros de combustível, essenciais para as atividades ilícitas, foram inutilizados.
Em uma das balsas desmanteladas, uma descoberta alarmante: fósseis de animais foram encontrados, evidenciando que, além dos severos impactos ambientais, o garimpo ilegal na região está causando prejuízos paleontológicos. O Ibama alerta que a presença dessas dragas e balsas no Rio Teles Pires provoca contaminação, assoreamento e destruição de suas margens.
A neutralização dessa infraestrutura ilegal é crucial para interromper o ciclo de exploração predatória. O órgão federal ressalta que a continuidade dessas ações não só agrava os danos ambientais, mas também coloca em risco a cultura e o modo de vida dos povos Kayabi-Apiaká, Kawaiwete e Munduruku, que dependem do Rio Teles Pires para sua subsistência e vida tradicional. A degradação do rio compromete a reprodução de peixes e ameaça a sobrevivência das aproximadamente 1.229 pessoas que vivem no território Kayabi.
Somente este ano, já são pelo menos 50 balsas ou embarcações ilegalmente utilizadas inutilizadas na região, reforçando o compromisso da fiscalização. Essa última ação foi deflagrada no dia 10 de junho. Em abril, operações anteriores (“Xapiri MT” e “Kuri”), com a participação do Ibama, Polícia Federal e Funai, já haviam desmantelado o garimpo ilegal em trechos dos rios Teles Pires e São Benedito, resultando na destruição de 17 balsas e dois mil litros de combustível, além da apreensão de ouro, causando um prejuízo estimado de R$ 15 milhões à atividade criminosa. A Operação Xapiri faz parte do Plano Anual de Proteção Ambiental (Pnapa) do Ibama, que prevê ações sistemáticas de fiscalização em terras indígenas.
R$ 20 milhões em multas por uso ilegal de mercúrio em Poconé
Em uma frente diferente, mas igualmente importante, nove garimpeiros na região de Poconé (a 110 km ao Sul de Cuiabá) foram multados em um total de R$ 20 milhões pelo Ibama. A razão: o uso irregular de mercúrio na extração de ouro.
Nesse caso específico, foram emitidas 14 autuações contra empresas que possuíam licença ambiental, mas estavam operando de forma ilegal ao utilizar mercúrio. Essa fiscalização é um desdobramento da operação “Almadén”, deflagrada no início de junho, que tem como alvo garimpos e mineradoras.
O Ibama esclarece que no Brasil não há extração ou beneficiamento de mercúrio; a única forma legal de obter o produto é por meio da importação ou reciclagem. Foi através do sistema de rastreamento que os agentes do Ibama conseguiram identificar atividades suspeitas em garimpos nos municípios de Poconé e Sinop, localizado no Norte do estado.

















